Se você tivesse uma hora de vida, o que faria? Para quem ligaria? O que diria? Essas perguntas ajudam a quebrar o tabu deste tema tão presente na vida de muitas pessoas.
Para se libertar do peso do luto, o primeiro processo é falar. Falar sobre a morte, sobre o luto por alguém querido ou sobre a nossa própria finitude é a única forma possível de tornar essa realidade ou perspectiva menos assustadora. O luto é algo que não podemos apenas deixar de lado e tentar esquecer, ele é um processo natural, a morte acontece a cada um de nós como resultado do nascimento, e temos que aprender a lidar com ela para termos uma vida plena!
Morte é um tema pouco discutido
Aprendi que há uma forma leve e bonita de falar sobre o assunto. Vivemos como se fôssemos eternos, despreparados para morrer ou ajudar alguém a morrer. A morte é um processo biológico e natural, constituído também por aspectos psicológicos e sociais. Sendo assim, a morte se apresenta como um movimento impregnado de valores e significados que dependem do contexto social e histórico em que se manifesta.
No Brasil, culturalmente a morte é um tabu, tema pouco discutido se comparado às pesquisas realizadas no mundo. Sem reflexão acerca da morte e do morrer, perde-se a oportunidade de construir novos sentidos sobre a finitude. Embora a morte faça parte de cada dia como uma certeza na vida, ninguém conversa abertamente sobre ela. Sem conversa, não há preparação.
Interpretações religiosas sobre a morte
As interpretações religiosas dadas à morte variam com a cultura. Assim, no budismo a morte não é o fim, mas a continuação de um ciclo existente entre vida e morte; no hinduísmo também se interpreta a morte como um recomeço, em que a reencarnação é o passo seguinte, mesma interpretação dada pelo espiritismo. Portanto, a morte como “fim” não existe para essas religiões.
No Brasil, a maior parte da população tem suas crenças influenciadas pelo cristianismo e, para essas pessoas, a morte é o fim da vida terrena, e só haverá outra vida após a vinda de Cristo, quando todos serão julgados e levados ao paraíso ou ao inferno. Assim, um reencontro com o morto só se dará após a morte dos que estão em luto, e por isso estes choram a morte de uma pessoa querida, que estará ausente para sempre da sua vida presente.
Brasileiros debatem pouco sobre morte
Segundo pesquisa feita pelo Studio Ideias, encomendado pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (SINCEP) e apresentado pela BBC News Brasil, uma parcela considerável da população brasileira não se sente confortável com assuntos relacionados à morte, que vão da realização de cerimônias fúnebres à liberdade que uma pessoa deve ter ou não para decidir sobre o fim da própria vida.
Falar sobre o tema foi visto por uma parcela significativa dos entrevistados como algo depressivo (48%) e mórbido (28%). A pesquisa mostrou também que os brasileiros têm ressalvas sobre como e com quem falar sobre a morte: 55% concordaram que “é importante conversar sobre a morte, mas as pessoas geralmente não estão preparadas para ouvir”.
O que é o luto?
Mas o luto, ao contrário do que a maioria pensa, não se trata apenas de morte: é um processo que se dá diante da perda de alguém ou algo de importância emocional para alguma pessoa. Pode ser, sim, morte, mas também pode acontecer por motivos de rompimentos, fim de um namoro, demissão etc. Há o luto da perda da juventude, dos cabelos coloridos, das amizades perdidas, dos filhos idealizados. São muitos lutos e renascimentos.
Dores causadas pelo luto
Não é possível falar em luto sem falar em dor, ou seja, o luto sempre produz o sentimento de dor. Após uma perda é esperado que sentimentos como medo, tristeza, culpa, raiva e insegurança sejam potencializados e, com isso, alguns comportamentos se evidenciam, como o desejo de ficar só e a sensação de falta de energia ou de motivação, por exemplo. É importante observar que, durante o período de luto, suas emoções são respostas às mudanças ocorridas a partir da falta que a pessoa faz em sua vida.
No processo de luto, devemos encontrar uma maneira de suportar a dor da perda, não negá-la, bloqueá-la ou lutar contra, mas encontrar a nossa própria maneira de processá-lo. Como disse Augustus Waters: “Esse é o problema da dor, ela precisa ser sentida”.
Cada pessoa tem a sua maneira de reagir. Por isso, nunca há um padrão, até mesmo sobre os estágios do luto: eles podem durar dias, meses ou, até mesmo, anos. Tudo depende da estrutura emocional da pessoa e de como ela desenvolve esse vínculo com a perda.
“A morte chega em nossa casa, num dia qualquer, interrompe um projeto, engaveta sonhos, esvazia os abraços, emudece a voz, silencia os passos. Sua chegada não pede grandes acontecimentos, se espreita pelos cantos da casa em horários corriqueiros – após o jantar, dormindo, antes do amanhecer, vendo um programa de tv, no meio de um filme, esperando o almoço de domingo – sem cerimônias, uma visita certa, mas ainda assim intrusa.” (Quando a morte chega em casa: o luto e a saudade de Teresa Gouvêa, 2018).
Fases do luto
Os sentimentos de perda e luto levam um tempo para que sejam aceitos, infelizmente não somem tão rápido quanto gostaríamos. O luto, como a maioria das coisas, muda! Ele é temporário, mesmo que, às vezes, pareça permanente. Por esse motivo, apresento de forma simples e direta uma pequena explicação sobre as 5 fases que compõem o processo do luto, segundo Kübler-Ross. Confira:
1ª Fase: choque
“Choque” é um termo geral para descrever a intensidade do trauma que enfrentamos. Essa fase depende de inúmeros fatores, como a causa da morte, onde ela aconteceu, a forma, entre outras questões, que acabam influenciando diretamente no “nível traumático”.
2ª Fase: pensamentos Caóticos
Sentimentos caóticos começam a sensibilizar o corpo, expressando emoções projetadas no ambiente externo e pelo sentimento de inconformismo. Uma das fases mais difíceis, pois algumas atitudes não possuem justificativa plausível.
3ª Fase: afastamento
Quando você acha que finalmente acabou, você começa a se afastar. Isso não é depressão, mas uma tentativa de conservar energia e se renovar. Parte importante do processo.
4ª Fase: cura
Reconhecer que, desde a perda, você é apenas uma lembrança do que costumava ser, e você precisa descobrir quem é e viver sua própria vida. O enlutado chega, agora, ao momento em que a saudade se torna mais sossegada.
5ª Fase: renovação
Muitas vezes não acreditamos que conseguiremos voltar ao fluxo normal de nossas vidas, mas com o tempo conseguimos. Por isso, após uma sequência de fases difíceis, mas necessárias, conseguimos perceber a mudança e percorrer todo o processo do luto.
A esperança é o sentimento mais comum em todos os estágios do luto. Até os mais conformados esperam por uma possibilidade de cura. Nesse momento, é fundamental o papel do terapeuta, conservando no paciente a esperança e tentando salvá-lo para que ninguém se entregue. Afinal, a ausência de esperança é o prenúncio do fim.
Por hipnoterapeuta Débora Diniz
Hipnoterapeuta formada pela OMNI Hypnosis Training Center, Débora Diniz utiliza essa ciência em suas consultas para auxiliar seus pacientes a encontrarem uma maneira saudável de controlar os medos e comportamentos negativos. Foi pioneira na criação de um Serviço de Terapia Nutricional Parenteral e Enteral e na construção da primeira “sala limpa” para preparo destas nutrições em ambiente hospitalar do Brasil.
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