A traição é um ato que acontece frequentemente e, apesar de ser muito associada aos casais, não se limita apenas a relações afetivas ou, ainda, à prática sexual. Isso porque a infidelidade também pode ocorrer entre amigos, familiares e colegas de trabalho, o que não indica que o sentimento deixa de ser menos doloroso, principalmente para os brasileiros.
Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo aplicativo de encontros Gleeden, o Brasil é o país mais infiel da América Latina e cerca de 80% dos brasileiros já foram infiéis. Para piorar, o estudo ainda aponta que 60% dos entrevistados não se arrependem da traição e consideram a infidelidade algo natural.
Apesar disso, essa atitude pode abalar consideravelmente a saúde mental tanto de quem é traído quanto de quem trai, como mostra a psicóloga Ana Streit, mestre em psicologia e saúde. Confira a seguir mais sobre o tema!
Tipos de traições
A psicóloga Ana Streit explica que há diferentes tipos de traições, como:
Comprometimento condicional, que é “estar com a pessoa até que alguém melhor apareça”;
Um caso sem sexo, ou seja, estar envolvido emocionalmente com outra pessoa e esconder essa relação do parceiro;
Manipulação.
Ainda, a profissional afirma que há “[…] atitudes de egoísmo e injustiça, que denunciam a não reciprocidade na relação”, diz a profissional.
Impacto da infidelidade na saúde emocional
A psicóloga explica que existe também o estelionato emocional, que nada mais é do que uma forma de violência psicológica, composto de manipulação, de mentiras e da construção de um mundo de ilusão.
“O impacto emocional dele é gigantesco, pois usa de aspectos saudáveis do outro, como a confiança, por exemplo, e distorce, fazendo com que a pessoa enganada fique machucada não só nesta relação, mas nas posteriores também. É o que chamamos de ferida de apego, uma ferida emocional complexa de ser tratada, mas que se relaciona diretamente à forma da pessoa se relacionar nas próximas experiências”, explica a especialista em terapia cognitivo comportamental.
Influência do patriarcado nas traições
Ana ressalta que, historicamente, vemos que os homens traem mais, até mesmo em função do patriarcado e da diferença de gênero, que coloca o homem nessa posição de mais poder. Quanto maior o machismo, mais o homem terá crenças de que pode trair, e a mulher, de que precisa aceitar ou tolerar esse tipo de comportamento. “Um dos motivos principais, levando esse aspecto do estereótipo de gênero em conta, é o homem sentir que tem o direito de trair, afinal é superior a mulher, nessa análise contextual”, pontua a psicóloga.
A especialista em relações saudáveis ainda diz que é importante não generalizarmos. “Precisamos abrir um espaço para refletir sobre o comprometimento nos relacionamentos e para a equidade de gêneros, em que empatia e reciprocidade falam mais alto do que nossas raízes machistas e patriarcais”, diz Ana Streit.
Reconstruindo a confiança
Cada tipo de traição irá machucar de forma mais ou menos intensa quem foi traído e, além disso, um aspecto que impacta também é a soma de traições. A psicóloga explica que, para manter um caso extra conjugal de anos, por exemplo, a pessoa precisa se envolver em uma série de mentiras para sustentar o caso e escondê-lo do parceiro(a). Essa complexidade aumenta o impacto e dificulta a reconstrução da confiança.
O perdão pode acontecer, mas não quer dizer que seja sinônimo da reconstrução da relação. Pode-se perdoar uma traição, porém optar por nunca mais dar ao outro o benefício da dúvida, afinal se mostrou alguém não digno de confiança.
Por Consuelo Magalhães
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