A endometriose é uma doença crônica com grande impacto na vida das mulheres. Nessa condição, o tecido que reveste internamente o útero, chamado de endométrio, cresce para fora da cavidade uterina, causando dores incapacitantes e/ou infertilidade. Além disso, esses sintomas podem se parecer com sinais de outros distúrbios ginecológicos, gastrointestinais e musculoesqueléticos.
O diagnóstico da endometriose é difícil devido a várias questões, como crenças populares de que é normal sentir dor e a falta de acesso a profissionais capacitados para identificar e tratar a doença. No entanto, essa condição afeta mais de sete milhões de brasileiras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, há boas notícias, pois muitos avanços têm ocorrido e a tendência é acelerar o tempo de identificação da doença, que atualmente leva de sete a 12 anos.
Uso da laparoscopia diagnóstica
Por décadas, a laparoscopia diagnóstica, uma cirurgia minimamente invasiva, foi considerada o padrão ouro para detectar a endometriose. Essa técnica permitia a visualização direta da endometriose e a realização de biópsias para comprovação da doença.
No entanto, esse conceito tem sido muito questionado por representar um obstáculo para o diagnóstico, principalmente em países como o Brasil, em que a maioria dos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) carecem de recursos tecnológicos e de profissionais especializados. Sem contar a questão custo-efetiva do método, uma vez que a paciente passaria por um procedimento só para detecção e teria que refazê-lo, caso houvesse indicação cirúrgica.
Melhores alternativas
Foi nesse contexto e no sentido de trazer o que há de melhor, que, por meio de estudos e pesquisas, um novo caminho tem sido traçado para mapear a doença, eliminando o diagnóstico invasivo, criando marcadores, algoritmos terapêuticos e até um aplicativo para classificar os estádios da doença.
“Uma visão 360 graus que leva em consideração a intensidade do sintoma (ou dos sintomas) e o local dos focos, tudo isso lastreado por um protocolo de exame clínico e de imagem”, comenta o ginecologista Mauricio Abrão, professor de Ginecologia da FMUSP.
Numa das pesquisas conduzidas pelo especialista, a Strengths and limitations of diagnostic tools for endometriosis and relevance in diagnostic test accuracy research (Pontos fortes e limitações das ferramentas de diagnóstico para endometriose e relevância na pesquisa de precisão de testes diagnósticos, em português), publicada na revista científica Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, a conclusão é que a ressonância magnética e, principalmente, a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, poderiam fornecer uma identificação visual não invasiva e obtida com mais rapidez, segurança e acessibilidade, em comparação com a laparoscopia.
O atraso entre o início dos sintomas e o diagnóstico é um tempo que impacta a qualidade de vida da paciente (Imagem: photoroyalty | Shutterstock)
Ultrassonografia transvaginal é mais precisa
Em outro estudo, também do qual o ginecologista participou, o Systematic evaluation of endometriosis by transvaginal ultrasound can accurately replace diagnostic laparoscopy, mainly for deep and ovarian endometriosis (em português, A avaliação sistemática da endometriose pela ultrassonografia transvaginal pode substituir com precisão a laparoscopia diagnóstica, principalmente para endometriose profunda e ovariana) comparou a sensibilidade e a especificidade da ultrassonografia transvaginal pré-operatória com preparo intestinal com a laparoscopia diagnóstica para a identificação da endometriose.
“Nesse estudo, realizado entre março de 2017 e setembro de 2019, participaram 120 pacientes que foram submetidas a cirurgia (laparoscopia), por suspeita de endometriose, mas tinham imagens pré-operatórias realizadas pelo ultrassom. Como resultado, a laparoscopia diagnóstica detectou endometriose retrocervical, ovariana e vesical com sensibilidade e especificidade semelhantes ao do ultrassom. Mas na endometriose vaginal e retossigmoide, a laparoscopia apresentou menor sensibilidade e especificidade do que o ultrassom”, explica Mauricio Abrão, Coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo).
Por isso, o ultrassom transvaginal pré-operatório com preparo intestinal é importante em várias frentes, já que o atraso entre o início dos sintomas e o diagnóstico, é um tempo que impacta a qualidade de vida, nas relações sexuais e no trabalho, causando prejuízos físicos e emocionais.
Vantagens do ultrassom transvaginal
Para quem sofre dessa condição, o ultrassom transvaginal é um exame mais acessível em todo território nacional, seguro e que serve ainda para diagnosticar, dimensionar os focos, planejar a cirurgia e acompanhar a paciente. Auxilia a equipe médica a entender a extensão e a localização da endometriose, interpretando sensibilidade e mobilidade em tempo real. Isso não significa que a laparoscopia deixou de ser utilizada.
“Pelo contrário, quando há indicação, significa que realmente há necessidade de a paciente passar por esse método. Lembrando que a única forma de remover os focos da doença é com cirurgia, seja a laparoscopia ou a cirurgia robótica”, conclui Mauricio Abrão.
Por Ana Marigliani
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