Na noite desta segunda-feira (8), a música brasileira perdeu uma de suas maiores e mais influentes cantoras e compositoras, Rita Lee, aos 75 anos. Ela morreu na própria residência em São Paulo, capital. A confirmação foi feita pela equipe e familiares, nesta terça-feira (9). Vítima de um câncer de pulmão, ela vinha enfrentando bravamente a doença desde 2021.
Brasil em luto
“Mas enquanto estou viva e cheia de graça. Talvez ainda faça um monte de gente feliz”, cantava Rita. E o desejo de espalhar felicidade se concretizou. A notícia da morte de Rita Lee deixou o mundo da música e seus fãs em luto, mas com uma despedida coletiva repleta de gratidão e enorme reconhecimento do que ela representa ao país.
Inspiração para muitas mulheres
Uma artista singular, Rita Lee é, segundo Caetano Veloso, a tradução da cidade de São Paulo. Com uma trajetória marcada por inovação e autenticidade, levou o rock brasileiro para novos patamares e conquistou uma legião de fãs em todo o Brasil. Sendo multi-instrumentista, inspirou diversas mulheres e garotas a entrarem no universo da música, como Pitty, Paula Toller, Anavitória, Manu Gavassi, entre outras – de várias gerações.
Uma artista única
Amplamente respeitada, ela afirmava preferir ser chamada de “padroeira da liberdade” do que “rainha do rock”. E, além de seu legado musical, Rita Lee também foi uma pessoa cercada de curiosidades e particularidades que encantam e surpreendem a todos. Por isso, relembre 10 momentos da vida dessa artista transgressora, que demonstra que ela não apenas foi uma artista excepcional, mas uma figura ímpar, fascinante e cheia de nuances!
1. Infância Musical
Rita Lee nasceu em São Paulo, e transformou o bairro da Vila Mariana em um marco. Ela era filha de uma pianista e cresceu em um ambiente musical, aprendendo a tocar piano e guitarra ainda na adolescência. A artista abandonou o curso de Comunicação Social na Universidade de São Paulo (USP) para se dedicar à música.
2. Primeira mulher a tocar guitarra em um palco no Brasil
Ela começou a carreira musical na banda “Os Mutantes”, um dos grupos mais importantes e influentes da história da música brasileira, entre 1960 e 1970. Com sua voz potente e sua irreverência, Rita Lee logo se destacou na cena musical brasileira, e conquistou fãs em todo o país. Ela foi pioneira ao se tornar a primeira mulher a tocar guitarra nos palcos do Brasil. Grande símbolo da luta feminista no país, ela afirmava: “se for para reencarnar novamente aqui na Terra, vou querer ser mulher.”
3. Considerada a artista brasileira mais censurada
Em 1978, Rita Lee lançou o álbum “Babilônia”, que foi censurado pelo governo brasileiro devido às letras consideradas subversivas. Mesmo assim, o álbum se tornou um grande sucesso de crítica e público, consolidando ainda mais a carreira da artista.
Ela foi uma figura importante ao expor temas e atitudes que questionavam tabus sociais, como o uso de drogas e a liberação sexual, tanto em suas músicas quanto em sua vida pessoal. Teve inúmeras letras proibidas, em função de, principalmente, “atentarem contra a moral e os bons costumes”.
Rita foi presa durante a ditadura militar no Brasil, em 1976, enquanto estava grávida do primeiro filho. Inclusive, a artista recebeu a visita e a ajuda da cantora Elis Regina. Duas semanas depois ela foi liberada e condenada a um ano de prisão domiciliar e multa de 50 salários-mínimos.
4. Lista imensa de composições
Além de cantora, Rita Lee também é uma compositora prolífica, tendo escrito mais de 300 músicas ao longo de sua carreira. Suas letras falam de amor, liberdade, política e outros temas importantes, e foram influenciadas por diversas correntes musicais, como o rock, o jazz e o pop.
A artista também era poliglota, falava cinco idiomas: português, inglês, francês, espanhol e italiano. Diante disso, a influência musical de outras línguas também entrou em cena no processo criativo da compositora.
5. Defensora dos animais
Rita Lee foi uma grande defensora dos direitos dos animais e se manifestou diversas vezes contra a crueldade com os bichos. Ela é vegetariana desde os anos 1970 e, posteriormente, se tornou vegana. Chegou a fundar um santuário para animais em sua casa em São Paulo. Além disso, ela participou de campanhas de conscientização sobre a importância da adoção de animais e da preservação da natureza.
6. Amor dentro e fora dos palcos
Rita Lee e o músico Roberto de Carvalho tiveram uma parceria musical e pessoal que durou mais de 40 anos. Eles se conheceram nos anos 70, quando Roberto era guitarrista da banda de apoio de Rita. Desde então, tiveram um relacionamento que ultrapassou as barreiras do palco.
Além disso, a união deu origem a uma série de sucessos no cenário pop brasileiro, incluindo a canção “Mania de Você”, a mais tocada da carreira da cantora. Com o passar do tempo, Roberto e Rita foram acumulando hits, como “Saúde”, “Nem Luxo Nem Lixo”, “Caso Sério”, “Desculpe o Auê” e “Chega Mais”, entre outros, que consolidaram ainda mais a carreira da cantora.
7. Livros infantis e autobiografias
Rita Lee escreveu 12 livros durante a carreira: 2 autobiografias, 6 infantis e 4 ilustrações e contos. Em 2012, ela lançou o primeiro livro para crianças, intitulado “Dr. Alex, o médico que não tinha medo de bicho”. A obra, ilustrada pela cartunista Laerte, conta a história de um médico que trata animais em um hospital veterinário.
Além deste, Rita Lee também escreveu outros livros infantis, como “Amiga Ursa – Uma história triste, mas com final feliz”, lançado em 2016. Ele conta a história de uma ursa resgatada de um circo e levada para um santuário de animais, onde conhece uma menina que se torna sua grande amiga.
A cantora também tem um livro de memórias, “Rita Lee: Uma Autobiografia”, publicado em 2016. No livro, ela conta suas histórias de vida, desde a infância até a aposentadoria, incluindo os bastidores da indústria musical, sua relação com as drogas e sua vida em família. Uma segunda edição, chamada “Rita Lee: Outra Autobiografia” está prevista para ser lançada dia 22 de maio deste ano.
8. Aposentadoria dos palcos
Em 2012, Rita Lee anunciou sua aposentadoria dos palcos, encerrando uma carreira que durou mais de cinco décadas. O último show foi em Aracaju, onde enfrentou policiais após confusão dos agentes com o público. “Sou do tempo da ditadura, não tenho medo”, disse ela durante apresentação. A cantora foi levada à delegacia para depor logo depois do show.
9. Influência para antigas e novas gerações
Durante sua carreira, Rita Lee foi, ainda em vida, homenageada de diferentes formas. Ela popularizou a tradição do “selinho” de Hebe Camargo, em 1997. A cantora deu um beijo na apresentadora durante um programa de TV, tornando o gesto uma das marcas registradas da jornalista em outras entrevistas.
Em 2019, a escola de samba Unidos de Vila Isabel homenageou Rita Lee no desfile no Carnaval do Rio de Janeiro. O enredo, “Em nome do pai, do filho e dos santos, a Vila canta a cidade de Pedro”, contou a história de São Pedro e homenageou diversos artistas brasileiros, entre eles, a cantora.
A dupla Anavitória lançou a música “Amarelo, Azul e Branco” em 2020, que faz referência a diversas músicas de Rita Lee. A letra da canção é repleta de referências e citações de músicas, como “Lança Perfume” e “Baila Comigo”.
Atualmente, a cantora Manu Gavassi tomou a frente para apresentar as obras da cantora para uma nova geração durante sua nova turnê. Gavassi, com o aval de Lee, recriou um de seus álbuns mais icônicos, “Fruto Proibido”, lançado na década de 70.
10. Bem-humorada até o final
Conhecida pelo humor irônico e peculiar – desde as entrevistas até sua era nas redes sociais – Rita Lee, em sua primeira autobiografia, escreveu o próprio epitáfio: ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa. A artista ainda imaginou como seria os desdobramentos de sua morte e citou: “estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you, Lord, finally sedated’ (obrigada Deus, finalmente sedada).”
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