O lipedema é uma doença progressiva caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em membros do corpo, como glúteos, pernas, braços, coxas e abdômen. Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, estima-se que uma em cada 10 mulheres têm lipedema. No entanto, ela ainda é confundida com obesidade e até celulite, o que dificulta o seu tratamento.
Segundo Carol Taurisano, empresária e influenciadora digital, a doença alterou a forma como ela se enxergava e se vestia no dia a dia. “[O lipedema] interferiu em 100% da minha autoestima, eu me sentia culpada, pois fazia muitos exercícios e dietas e não atingia os resultados de emagrecimento e redução de pernas. Hoje em dia, eu não uso roupa curta e sinto muito cansaço nas pernas. Não consigo ficar muito tempo em pé”, diz.
Causas do lipedema
Um dos fatores que influenciam o surgimento do lipedema é a característica genética, apesar de ainda não haver pesquisas suficientes que indiquem o gene acometido pela doença, assim como a produção de hormônios como estrogênio e progesterona. Por isso, o problema costuma acometer somente as mulheres.
“Em geral o lipedema surge de acordo com as fases de variações hormonais da mulher ao longo da vida, por exemplo: quando ela fica menstruada, na gestação, na menopausa, quando vai fazer tratamento para engravidar e no uso de anticoncepcionais. São momentos em que a doença vai se desequilibrar e ter o acúmulo maior de gordura”, explica a Dra. Aline Lamaita, médica cirurgiã vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).
Sintomas da doença
O principal sintoma do lipedema é o acúmulo excessivo de gordura, que causa desproporção corporal. No entanto, segundo a Dra. Aline Lamaita, a doença também pode causar outros desconfortos no paciente, como:
Retenção de líquido;
Inchaço;
Dor;
Sensação de peso;
Cansaço;
Hematoma;
Nódulos debaixo da pele;
Sensação de pele fria.
De acordo com Carol Taurisano, um dos primeiros sinais de que a incomodou com relação ao lipedema foi o formato do seu tornozelo, pois, mesmo após emagrecer, eles continuavam desproporcionais ao seu corpo. “Eu tinha muitos roxos nas pernas, sem nem ter batido, o aspecto e a cor da pele eram sempre meio roxos e com muito inchaço. Eu sentia dor, cansaço e dificuldade em perder gordura nas pernas, mesmo com dietas e exercícios físicos”, conta a influenciadora digital.
Diagnóstico do lipedema
O diagnóstico da doença é realizado de forma clínica, pois não existe um exame específico para o lipedema. Assim, a paciente deve consultar um médico especialista para que seja avaliada de forma específica a sua condição. “O diagnóstico do lipedema é basicamente feito através de um questionário, em que a paciente vai dizer o seu histórico, como foi o ganho de peso na adolescência, se a presença ou não de hematomas, dor ao toque e processos inflamatórios”, diz a Dra. Aline Lamaita.
Tipos de lipedema
O lipedema é classificado em cinco tipos, de acordo com a área acometida pela doença. Segundo a Dra. Aline Lamaita, essa classificação é dividida da seguinte forma:
Tipo 1: acomete barriga e quadril;
Tipo 2: acomete até os joelhos;
Tipo 3: acomete até os tornozelos;
Tipo 4: acomete os braços;
Tipo 5: apenas do joelho para baixo (bastante associado ao tipo 3, caracterizado por pernas grossas até o tornozelo e pé fino).
Diferença entre lipedema e outras condições
Semelhante a um inchaço, o lipedema é frequentemente confundido com outras condições, mas existem diferenças entre cada um dos quadros. Confira a seguir:
Lipedema e obesidade
De acordo com a Dra. Aline Lamaita, uma das principais características que diferencia a obesidade do lipedema é a distribuição de gordura. Pacientes com quadro de obesidade costumam ter gordura no corpo em geral, enquanto no lipedema o corpo é desproporcional. “A gordura da obesidade é uma gordura que não é inflamatória, então, ela não tem dor ao toque nem formação de nódulos. Na obesidade o paciente também perde peso no corpo inteiro, enquanto no lipedema a pessoa emagrece no resto do corpo, mas o membro afetado pela condição continua igual”, diz a médica cirurgiã.
Lipedema e celulite
Em casos de lipedema, o paciente pode até ter celulite, mas a gordura se concentra apenas em uma região específica do corpo, diferentemente da celulite que acomete o corpo inteiro. “O lipedema é caracterizado pela distribuição anormal e assimétrica de gordura. Pessoas que têm lipedema têm dor local e celulite. Existem pessoas que têm celulite onde há gordura localizada, mas essas pessoas não têm essa desproporção de gordura entre tronco e membro”, explica a Dra. Cláudia Merlo, médica especialista em cosmetologia.
Lipedema e linfedema
Em casos mais avançados, o lipedema é associado ao linfedema, pois pode ser acompanhado de edema, dor e sensibilidade, mas a condição sempre vai ser bilateral, ao contrário do linfedema. “O linfedema é uma doença caracterizada por uma alteração do sistema linfático, que causa dificuldade de drenagem, acúmulo de linfa e que gere um aumento progressivo do membro, mas por uma deficiência no sistema linfático. Em casos de linfedema, é mais incomum que você tenha o problema nas duas pernas, pois ele não acomete um membro só”, conta a Dra. Aline Lamaita.
Tratamento para o lipedema
Assim como o diagnóstico, o tratamento para a condição é realizado de forma clínica. Dessa forma, adotar mudanças de hábitos de vida, como alimentação equilibrada, redução de peso e prática de atividade física, é essencial. Para isso, a Dra. Cláudia Merlo explica que evitar alimentos processados, açúcar, carboidrato e sal é fundamental.
“O açúcar aumenta a insulina, que tenta armazenar o excesso de células de gordura, fazendo com que elas fiquem maiores. Com o tempo, isso pode aumentar o ganho de peso ou a resistência à insulina. Alimentos embutidos e ricos em sódio também têm relação, pois aumentam a retenção de líquido”, explica a especialista em cosmetologia.
Além disso, a médica afirma que a prática de exercícios de baixo impacto e que fortalecem o músculo e membros também são indicados, bem como a utilização de meias de compressão. “Gosto de recomendar o uso de roupas de compressão durante os exercícios, pois elas ajudam na circulação sanguínea e no fluxo linfático, reduzindo o acúmulo de fluído, diminuindo o inchaço, e os riscos de o distúrbio progredir”, afirma a especialista.
Consulte um especialista
Apesar do tratamento clínico e multiterapêutico, o lipedema não tem cura e as ações apenas controlam a doença, evitando problemas mais graves. “Se não tratado, o lipedema pode causar limitações de mobilidade, artrite acelerada no joelho e tornozelos e limitação da marcha, além de obesidade secundária, varizes, linfedema e aumento do risco de coagulação sanguínea”, conta a Dra. Cláudia Merlo.
Por isso, ter acompanhamento com um especialista é fundamental, já que o paciente terá que conviver com a condição a vida inteira. “É importante que, durante toda a vida, a paciente tenha um acompanhamento, porque é uma doença genética, então, você tem uma penetrância importante na família e a probabilidade de passar para uma filha é de quase 50%. Por isso, manter a doença compensada a vida inteira é essencial para que ela se mantenha nos estágios iniciais e nunca chegue nos estágios mais avançados, que é quando a paciente vai ter complicações”, finaliza a Dra. Aline Lamaita.
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