Na área de musculação da academia, é bastante comum observar homens com peitorais, bíceps e dorsais bem definidos e musculosos, enquanto as pernas tendem a ser mais finas e menos desenvolvidas. Pular o “leg day”, como é chamado o dia de treino das pernas, é uma prática que muitos levam com bom humor, mas representa um dos principais erros cometidos pelos homens na musculação, justamente por ser o treino mais odiado e exaustivo.
As pernas são a base para a maioria das atividades. Elas abrigam alguns dos maiores músculos do corpo, e construir pernas saudáveis pode melhorar o desempenho, reduzir lesões e aumentar a resistência. Pular o treino de pernas é extremamente maléfico para uma das articulações mais importantes e sobrecarregadas do corpo: a dos joelhos.
“Quando temos um aumento do peso corporal, pela hipertrofia dos músculos superiores, sem que os músculos da perna acompanhem esse aumento, criamos uma sobrecarga articular nos joelhos. Isso causa um trauma repetitivo e excessivo da cartilagem, que culmina em sua degeneração. É fundamental que o estímulo muscular também seja dado aos músculos da perna”, explica o Dr. Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva.
Riscos por excesso de carga no joelho
O ortopedista explica que a massa muscular da coxa deve ser sempre estimulada, já que ela tem músculos muito importantes para os joelhos. “Como o joelho depende da ação de 10 músculos para funcionar […], o alongamento e fortalecimento desses músculos protege e melhora a função articular dos joelhos”, diz o médico.
Além da artrose, uma condição degenerativa que causa desgaste das articulações e causa dor, há risco de condromalácia, quando a sobrecarga gera inflamação na cartilagem, que fica mole com o tempo. “Se o diagnóstico demorar a ser feito, o joelho pode ficar inoperável, piorando suas condições gradativamente”, afirma o Dr. Marcos Cortelazo. Outras lesões geradas por excesso de carga são: lesão da cartilagem e lesão meniscal degenerativa.
Principais benefícios de exercícios de perna
Agachamento, leg, stiff, flexora e extensora, todos os exercícios de perna são importantes. Segundo o médico, eles trazem diretamente três benefícios básicos:
Ajudam na manutenção do peso corporal;
Fortalecem a musculatura, exercendo um efeito de proteção das articulações por meio da melhora do desempenho biomecânico e sustentação do esqueleto;
Ativam a circulação do líquido sinovial que nutre a cartilagem por meio do processo de embebição.
“O ideal é dar a mesma atenção e intensidade que treinamos os músculos superiores. A progressão de carga deve ser feita com o tempo, tomando cuidados também com excessos para não lesionar os músculos e inflamar as articulações“, completa o Dr. Marcos Cortelazo. “Em caso de dores na região, é fundamental procurar um ortopedista.”
Treinar as pernas beneficia o coração
Segundo a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), pelo tamanho dos músculos, toda forma de exercício físico que fortaleça as pernas é extremamente benéfica para a circulação do corpo inteiro. Isso pode, até mesmo, ajudar na hipertrofia dos músculos superiores.
“Além disso, é importante que tenhamos noção que, enquanto o coração é o grande protagonista do sistema arterial, a musculatura da panturrilha é o principal responsável pelo retorno efetivo do sangue para o pulmão. Por isso, dizemos que a panturrilha é o coração das pernas. Dessa forma, é fácil imaginar que qualquer situação em que a panturrilha não funcione adequadamente, vai piorar a circulação, diminuindo a velocidade do sangue dentro das veias”, explica a médica.
Benefícios para a saúde cognitiva
Segundo estudo feito pelo King’s College, de Londres, exercitar os músculos das pernas têm papel essencial na manutenção das funções cognitivas, prevenindo perdas de memória e sinais de perda cognitiva associada à idade.
“Os pesquisadores relataram uma notável relação protetora entre a aptidão muscular (a força das pernas) e a proteção cognitiva. Intervenções direcionadas para melhorar a força das pernas a longo prazo podem, segundo os pesquisadores, ajudar a alcançar uma meta universal de envelhecimento cognitivo saudável”, finaliza Dra. Aline Lamaita.
Por Maria Claudia Amoroso
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