Desde muito tempo, sou chamado, em algumas ocasiões, para falar sobre diversidade. Já participei de fóruns, congressos, formações, embates, partilhas. Onde quer que o desafio da diversidade se apresente nas questões religiosas, políticas, sociais, culturais e até ecológicas, deixo minha contribuição. Atualmente, há o conflito entre o consenso de que lidar com essa questão é uma oportunidade para o desenvolvimento pessoal, social e até profissional e uma certa agressividade em decorrência de opiniões relacionadas a gênero, à etnia, cultura, religião, orientação sexual, idade, a habilidades etc.
Não é fácil compreender perspectivas alheias e considerar necessidades diferentes das nossas. De um modo inconsciente, estamos cheios de vieses e preconceitos que limitam nossas possibilidades de acolher a dignidade das pessoas. Quando entendi o ser humano como filho da Mãe Terra, isso me ajudou a desenvolver uma perspectiva inclusiva.
Com o tempo, aprendi que, embora não precisasse concordar com o outro, poderia, pelo menos, respeitar seus sentimentos e pontos de vista. Mas um aprendizado que me causou maior impacto foi quando, em um evento no México com líderes do povo Maia, ouvi um ancião dizer que, para sua cultura ancestral: “O outro é o seu espelho. O que você vê no outro é um reflexo de si mesmo. Eu sou o outro e você é eu”.
Cultivando a cultura de paz
Por isso, antes de qualquer coisa, pratique a autoempatia: cuide-se, reconhecendo suas necessidades, sentimentos e propósitos, buscando conduzir-se pelos caminhos que seu coração escolheu trilhar. Quando abraçamos a nós mesmos do jeito que somos, alargamos esse abraço para que nele caiba a aldeia humana. Disso depende a cultura de paz, fundamental para a convivência entre os povos, entre a pluralidade de culturas e de civilizações e para a saúde e o equilíbrio de cada um, pois não existe outro caminho para o desenvolvimento humano se ele não estiver baseado na paz.
Mas não devemos confundir esse estado com inércia, passividade ou com ser omisso, ou neutro. A cultura de paz considera a originalidade e a integridade da cultura alheia, bem como a individualidade de cada um. Ela nos convida a nos aproximarmos desses enredos que são parte de uma visão de mundo pessoal e coletiva. Para tanto, nossos julgamentos precisam se afastar. Só assim poderemos respeitar o mistério que é o outro e que reflete a nossa própria imagem.
Por Kaká Werá – Revista Vida Simples
É um ecologista do ser e cultivador da arte do equilíbrio da natureza humana.
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