Difícil não se emocionar ao pisar no Egito, solo onde viveu uma das primeiras e mais desenvolvidas civilizações do planeta. Este país, situado no Nordeste da África, abriga intrigantes monumentos erguidos há milênios. Muitos deles estão parcialmente preservados. Misteriosos, atravessam os séculos como testemunhas de um passado que até hoje não foi decodificado pelos arqueólogos e cientistas, a não ser por teorias ainda não comprováveis.
Às margens do Rio Nilo
Como a antiga civilização, o Egito vive às margens do Rio Nilo, considerado até recentemente o maior do mundo em termos de extensão, posição atualmente ocupada pelo Rio Amazonas. Porém, o país visitado por Agatha Christie (1890-1976) e que a inspirou a escrever “Morte no Nilo”, considerado pela escritora inglesa como um de seus melhores livros, possui apenas 7% de solo fértil – os 93% restantes estão em pleno Deserto do Saara, o que faz com que os seus centros urbanos estejam concentrados ao longo do Rio Nilo e de seu delta.
O Egito está localizado em uma área predominantemente desértica que inclui a Península do Sinai, na Ásia. É banhado pelo Mar Mediterrâneo ao norte e limitado ao sul pelo Sudão, a nordeste pela Faixa de Gaza (Palestina) e Israel, a oeste pela Líbia e a leste pelo Mar Vermelho. O país controla o Canal de Suez, que une o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Inaugurado em 1869, após dez anos em construção, é o maior canal sem eclusas do mundo.
Temperaturas no Egito
Com clima árido, o Egito, embora tenha as mesmas quatro estações climáticas da Europa, vive na prática apenas duas delas: o inverno e o verão. Com temperaturas bem mais suaves e brandas do que as dos países europeus, a estação mais fria do ano tem seu pico em novembro (nos últimos dias de outono) e no início do inverno (primeiros dias de dezembro), quando registra mínimas entre 11ºC e 13ºC.
Já o verão é extremamente quente. Os dias de calor intenso começam em maio (final da primavera) e se estendem até setembro, com a chegada do verão com termômetros marcando temperaturas sempre acima dos 35ºC, podendo atingir até 50ºC.
Dificilmente chove no país, e o ar seco é um insistente lembrete de que se está no deserto, o que torna a hidratação e o uso de chapéu e de protetor solar indispensáveis. Também óculos escuros e colírio não devem ser esquecidos, porque é muito comum sentir ardência nos olhos por lá.
Dicas para melhorar sua estadia
Para quem ainda não percebeu, o país tem pouquíssima água, sobretudo tratada. E isso torna obrigatório o consumo de água mineral. Quanto às roupas, a sugestão é levar modelos mais comportados. Eles devem ser leves, mas não devem expor muito as pernas nem ter decotes demasiadamente ousados. Nas cidades egípcias, não se vê homens com bermudas nem mulheres com minissaias.
O islamismo é praticado pela maioria da população, hoje estimada em quase 197 milhões de habitantes, segundo o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. Embora sigam princípios religiosos rigorosos, os egípcios são bastante simpáticos, gentis e educados com os turistas. Também sabem ser muito insistentes e incisivos quando querem vender algo. Nesses momentos, eles deixam de lado o árabe, o idioma oficial do país, e usam frases em inglês, espanhol e até português.
Visitando a cidade do Cairo
Chegar ao Cairo e circular por lá não é fácil. O trânsito é intenso e caótico nas ruas da metrópole, onde automóveis, ônibus, tuk-tuks e pedestres dividem espaço – praticamente inexistem semáforos na capital. Também não há faixas de pedestres. Dá para imaginar? Borbulhante, uma das cidades mais numerosas do continente africano, Cairo guarda curiosidades, tesouros e muitas histórias para desvendar.
De linhas retas, os prédios da capital quase sempre são bege-claro, a cor das areias do deserto. Difícil encontrar um com cor diferente – alguns têm fachada de tijolo aparente. Surgem em diferentes tamanhos, com janelas onde muitas vezes roupas são penduradas para secar. Comum também são as varandas de alguns edifícios. Em vez de serem protegidas por vidros como acontece no Brasil, são fechadas por cortinas. É fascinante poder conhecer costumes tão diferentes!
Centro histórico
Essa, porém, não é a única paisagem intrigante do Cairo. O centro histórico da capital é icônico. Na Idade Medieval, foi a sede de uma das cidades islâmicas mais antigas do mundo. Fundado no século 10, transformou-se no novo centro do mundo islâmico, alcançando seu auge no século 14. Declarado Patrimônio Mundial da UNESCO em 1979, preserva antigas mesquitas, com fontes e madraçais (escola ou casa de estudos islâmicos), e a Cidadela do Cairo, também chamada Cidade de Saladino.
Fundada em 1176 pelo líder muçulmano Saladino, a antiga fortaleza medieval foi a sede do poder egípcio durante 700 anos, abrigando residências, haréns, casa da moeda… Ela guarda a Mesquita de Muhammad Ali Pasha, com belíssimos minaretes e cúpulas. Também é conhecida como a Mesquita de Alabastro por ter 40% de sua construção revestida em alabastro. Inspirada pelas linhas clássicas da Mesquita Azul de Istambul (Turquia), demorou 18 anos para ser construída.
Mesquita de Muhammed Ali Pasha
Foi edificada a mando de Muhammed. Ele governou o Egito de 1805 a 1849 e está enterrado em um túmulo de mármore branco à direita da entrada. Erguida em uma colina, a mesquita de mais de 80 metros de altura é visível de vários pontos do Cairo. Em seu pátio externo, além de jardins bem-cuidados, portais com colunas e vitrais, fica a Fonte das Abluções.
Para quem visita a mesquita, é preciso deixar os sapatos na porta, porque os muçulmanos colocam o rosto no chão ao fazer as orações. O uso de lenço ou burca para cobrir a cabeça não é necessário, porém ombros e pernas não devem estar expostos. No interior da mesquita, estão distribuídos lindíssimos lustres, colunas recobertas em alabastro e um púlpito. Espaçoso, o lugar tem capacidade para receber dez mil pessoas.
Bairro Copta é cercado por muralhas
Ainda no Cairo Velho, a região mais antiga da cidade, o bairro Copta é cercado por muralhas da antiga fortaleza romana chamada Babilônia (século IV). A palavra copta era utilizada pelos gregos para designar os egípcios, mas hoje é usada para nomear os cristãos egípcios evangelizados pelo apóstolo São Marcos no primeiro século depois de Cristo. Contudo, a religião copta não pertence à Igreja Católica. Ela tem o próprio papa e suas igrejas não exibem estátuas de santos como as da católica, apenas ostentam ícones ou quadros.
Patrimônio deixado para os cristãos egípcios, o bairro Copta compreende um conjunto de obras integrado pelo Museu Copta, pela Sinagoga Bem Ezra e pelas igrejas Suspensa, de São Jorge e de Santa Bárbara. Ali também está a Igreja São Sérgio e São Baco (em latim, Sergius e Bacchus), onde está uma gruta onde teriam vivido Jesus, Maria e José. Para fugir de Herodes, o Grande (73 a.C. a 4 a.C.), rei da Judeia (atual Israel), a Sagrada Família se refugiou no Egito, conforme relata a Bíblia.
Mercado Kama El Khalili
O Mercado Kama El Khalili é um bom endereço para compras. Khalili é o nome do seu fundador e a tradução do nome do lugar é mercado de Khalili. Localizado na Praça Roussen, ao lado de uma mesquita, o lugar se espalha por cerca de 200 ruazinhas, concentrando mais de quatro mil pequenas lojas. Elas vendem de tudo: suvenires, lenços, echarpes, roupas, bijuterias, joias, vasos, luminárias, tapetes, trajes de odalisca.
Museu da Civilização Egípcia
Ainda no centro do Cairo, o Museu da Civilização Egípcia é a sugestão para quem quer conhecer um pouco sobre o antigo Egito. Localizado na Praça Tahrir, guarda séculos de história, desde a Pré-história até a Idade Moderna, passando pelo período greco-romano e islâmico. Seu acervo é integrado por mais de 120 mil antiguidades. Elas foram encontradas nas inúmeras escavações feitas no país. Porém, apenas um terço delas está exposto. São utensílios, pinturas, cartas e contratos “escritos” em pedras, estátuas e múmias de faraós.
Tumba de Tutancâmon
Ali também pode ser vista a única estátua do faraó Quéops, “dono” da maior pirâmide do país. Pequenina, tem só 7,5 cm de altura. Ponto alto do museu são os objetos encontrados na tumba de Tutancâmon, no Vale dos Reis. São cabides, roupas, joias e armas até a cama de armar e o trono de madeira revestido de ouro. A famosa máscara funerária e o sarcófago do faraó feito com 110 quilos de ouro também estão no museu, mas em uma sala que não pode ser visitada.
As sete maravilhas
Situado 25 quilômetros a sudoeste do centro do Cairo, o complexo de Gizé guarda as mais famosas pirâmides do Egito: Quéops, Quéfren e Miquerinos. As três pirâmides, respectivamente do avô, pai e neto, são a única das sete maravilhas do mundo antigo que ainda existe. No complexo de Gizé, também estão uma vila operária, um complexo industrial, cemitérios e a icônica Esfinge, a escultura com cabeça de homem (dizem ser o rosto do faraó Quéfren) e corpo de leão de 71 metros de comprimento e 22 metros de altura. Esculpida em um monólito maciço, ela teria sido criada para proteger as pirâmides e as demais construções da necrópole dos saques de ladrões.
Construção das Pirâmides do Egito
As pirâmides contam muito sobre a organização da sociedade egípcia e sobre os seus avançados conhecimentos arquitetônicos e matemáticos – todos os quatro lados das bases das pirâmides têm praticamente o mesmo comprimento. Segundo os egiptólogos, as pirâmides foram construídas por operários remunerados, e não por escravos. Eles eram “contratados” para a construção e para o deslocamento de pesados blocos de pedra. A construção da pirâmide demorava, em média, 23 anos.
A pirâmide começava a ser erguida tão logo o faraó assumisse o poder. O motivo? Após a morte, o soberano teria de ser mumificado e enterrado em 70 dias, caso quisesse renascer para desfrutar a segunda vida. A morte e o ritual de passagem eram importantes para a civilização egípcia, para quem a vida era eterna e a morte, apenas uma passagem para o retorno à vida, quando os túmulos seriam o novo lar do morto.
Quéops, Quéfren e Miquerinos
Ressurreição à parte, cada uma das três pirâmides de Gizé tem seu próprio complexo: além da pirâmide principal, o conjunto é integrado por uma rampa, templo funerário, túmulos dos sacerdotes e de pessoas do governo e pirâmides menores destinadas às rainhas. A pirâmide de Quéops é a maior delas e também a que está menos conservada – existem hipóteses narrando que o seu cume seria coberto de ouro, que foi posteriormente saqueado por ladrões.
Originalmente, a pirâmide Quéops tinha 146 metros de altura, o equivalente a um prédio de 49 andares. Desgastada pela ação do tempo, hoje tem 137 metros de altura. Foi construída por volta de 2550 a.C., a pedido do faraó Quéops, da IV dinastia. Mais de 2,3 milhões de blocos, cada um deles pesando 2,5 toneladas, foram usados em sua construção. É possível visitar o seu interior. O acesso é feito por uma abertura, localizada a poucos metros do chão. Para entrar, é preciso comprar um ingresso extra.
Com 136,5 metros de altura, Quéfren é a segunda maior pirâmide do Egito. Revestida com calcário rosa, ainda preserva o revestimento de seu topo intacto. Foi erguida para abrigar o corpo de Quéfren, quarto rei da IV dinastia. A menor das três pirâmides é a Miquerinos. Ela tem 66 metros de altura e foi construída para o quinto soberano da IV dinastia. Esse faraó governou por 26 anos e morreu cedo. Por isso, seu túmulo teve de ser finalizado às pressas com material de qualidade inferior. Ao lado dela, estão três pequenas pirâmides de rainhas.
A beleza do templo de Ísis
A beleza do templo de Ísis não está apenas nas lendas. Ele tem colunas com capitéis em formato de papiro ou flor de lótus e desenhos em alto relevo. À medida que se entra em seu interior, as três portas que dão acesso à sala principal vão se estreitando, como se fossem uma pirâmide deitada. O templo foi construído por volta de 334 a.C., na época helenística, quando Alexandre, O Grande, esteve lá.
O rei da Macedônia foi considerado um libertador, porque livrou o país do domínio persa. Por isso, os sacerdotes egípcios ficaram gratos a Alexandre, O Grande, tornando-o um faraó. No templo, existem cenas dele abraçando a deusa Ísis. Elas foram criadas com o intuito de mostrar que o rei macedônio não seria violento com os egípcios, como haviam sido os persas, e que não estava em terras egípcias para interferir, mas sim para agregar.
Por Fabíola Musarra – revista Qual Viagem
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