As pessoas com Síndrome de Down devem ser respeitadas, celebradas e asseguradas de liberdade e oportunidades na educação, no mercado de trabalho, nas diversões, iguais a outras pessoas. O objetivo do Dia Mundial da Síndrome de Down, que é comemorado anualmente em 21 de março, é reforçar a prática de inclusão que deve ser levada todos os dias, por meio de conscientização da sociedade e de políticas públicas.
Estima-se que no Brasil a Síndrome esteja presente em 1 a cada 700 nascimentos, o que totaliza em torno de 270 mil pessoas com Down. No entanto, as leis brasileiras são um grande estímulo à empregabilidade e ao acesso ao ensino. No entanto, a realidade mostra que muitas vezes essas leis não são cumpridas e, quando são cumpridas, são pela metade, já que falta muitas vezes uma boa estrutura de apoio para agregar os portadores da síndrome e deixá-los à vontade e felizes.
Importância dos subsídios na educação e no trabalho
Muitas escolas têm adotado medidas para atender às necessidades educacionais especiais de pessoas com Síndrome de Down, como a adaptação do ambiente de ensino e a contratação de professores especializados. “Embora o número ainda seja insuficiente em muitas escolas, principalmente na rede pública, temos hoje muitos exemplos positivos de inclusão na educação e no mercado de trabalho que devem ser destacados”, destaca o defensor público federal André Naves, especialista em Direitos Humanos e Sociais.
No mercado de trabalho, a Lei de Cotas e os subsídios para as empresas também ajudam no aumento de contratações. Muitas têm adotado políticas de inclusão e contratado pessoas com Down para diversas funções, como atendimento ao cliente, produção e serviços administrativos. “Os empresários têm percebido que os portadores da síndrome são capazes de desempenhar bem suas funções e podem contribuir para a produtividade do negócio”, afirma André Naves.
No entanto, segundo o defensor público federal, ainda há muito o que melhorar. “Parece que nem sempre está tão claro o quanto a diversidade é importante para as organizações, gerando lucro, mas principalmente trazendo ganhos de capital humano. Em muitos locais, ainda não existe treinamento adequado nem uma política de conscientização dos funcionários em apoiá-los”, comenta.
Dificuldades para a entrada no mercado de trabalho
O defensor público lembra que pessoas com Down que não estão empregadas tendem a ter mais depressão e menor autoestima e que a entrada no mercado de trabalho é um passo importante para que os jovens que têm a síndrome possam fazer a transição entre o mundo da infância e o mundo adulto. No entanto, o excesso de preocupação por parte de familiares e amigos torna essa passagem difícil – e com razão, muitas vezes -, principalmente pela forma com que pessoas com Down são tratadas no dia a dia, o olhar de pena ou de desprezo de outras pessoas; sem falar na baixa expectativa que a sociedade nutre em relação à contribuição deles à comunidade e ao emprego onde estão inseridos.
Ainda há preconceitos e uma série de mitos que envolve esses profissionais. “É importante ressaltar que a relação com o trabalho não envolve apenas a pessoa com Down e a empresa. A família, a escola e sociedade em geral precisam caminhar juntas na defesa de uma inclusão efetiva, para que a entrada desses indivíduos no mercado de trabalho possa se tornar uma realidade, trazendo satisfação para eles e bons resultados para todos”, lembra o defensor.
Desafio da educação inclusiva
Em 1998, apenas cerca de 200 mil crianças brasileiras que necessitavam de educação especial estavam matriculadas nas classes comuns da Educação Básica. Em 2014, elas já eram quase 700 mil, distribuídas em 80% das mais de 145 mil escolas de todo o país. Em 2017, o número de alunos da educação especial já ultrapassava a barreira de um milhão e, em 2018, chegou a 1,18 milhão; um crescimento de quase 11% em apenas um ano.
A maior parte – pouco mais de 992 mil – estuda em escolas públicas do ensino regular. Porém, na prática, o desafio de levar conhecimento a todos encontra barreiras na inclusão de pessoas com Down. Dentre as mais de 270 mil pessoas com a síndrome, apenas 74 alcançaram êxito e concluíram uma graduação, conforme o Movimento Down.
Metas a serem atingidas
O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014, lista 20 metas a serem alcançadas em 10 anos — 2024, ou seja, no ano que vem! Dentre elas, a meta de inclusão na rede regular de educação: “Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados”, diz meta 4 do Plano. Além do PNE, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) também assegura que pessoas com síndromes tenham garantido o direito à educação.
André Naves ressalta que é fundamental que as escolas se esforcem para cumprir a meta de inclusão e estejam cada vez mais preparadas para acolher e valorizar as habilidades e potencialidades dos alunos com Down. Ele destaca a necessidade de as atividades curriculares serem adaptadas para atender as demandas desses estudantes. “É importantíssima a participação ativa dos pais no processo educacional de seus filhos. A educação é um direito fundamental para que crianças com Down possam desenvolver-se plenamente”, declara.
Grupo Chaverim auxilia na inclusão
Em São Paulo, o Grupo Chaverim – “Amigos”, em hebraico – é uma associação privada de caráter beneficente, com foco no atendimento às pessoas com deficiência intelectual e psicossocial, visando à sociabilização e inclusão social. A instituição já auxiliou dezenas de pessoas com Down nas áreas da educação e do trabalho.
Um bom exemplo é Estela Brick, de 57 anos, que atualmente trabalha na Serasa e é voluntária no Chaverim fazendo o cadastro de cupons da Nota Fiscal Paulista, o que ajuda muito na arrecadação das doações. “Gosto de jogar bola, dominó. Separo minha roupa para o trabalho. Gosto de nadar, pular Carnaval, de ir ao teatro”, diz ela, feliz por ter conquistado o seu espaço na sociedade.
Outro que também conta com apoio do Chaverim é David Goldzveig, de 30 anos, que estuda na ADID. “Gosto de pintura, desenho e também de esportes. Faço natação e ginástica artística. Tenho muitos amigos na Hebraica e no Chaverim. Eu gosto de ter amigos e assim sou feliz”, declara ele, que também participa do Dog Day Club – creche e hotel para cães -, onde cuida dos cachorros, coloca ração, brinca com eles e é responsável pela limpeza do local. A proprietária do negócio tem também uma filha com Down e, quando a família de David procurou o local para deixar o cachorro dele, Max, a empresária acabou acolhendo também o David, que trabalha às terças e quartas à tarde.
Como incluir pessoas com Síndrome de Down nas empresas?
Segundo o Movimento Down, o ambiente de trabalho ajuda as pessoas com Down a ganharem responsabilidades e desenvolverem relacionamentos com grupos diversos, o que tem impacto direto nas habilidades cognitivas, mecânicas e de adaptação a diferentes situações, inclusive na vida pessoal. Para o Movimento, uma pessoa com a síndrome deve ter as mesmas oportunidades de outras, porém dentro de suas singularidades, tendo suas necessidades respeitadas por meio de níveis de apoio para sua efetiva inserção e autonomia.
Confira algumas dicas para garantir a inclusão no trabalho
Garantir acessibilidade física;
Implantar uma tecnologia assistiva (produtos, recursos, equipamentos, práticas e metodologias que promovem a funcionalidade, visando aumentar a autonomia, a independência, a qualidade de vida e a inclusão social);
Superar vieses inconscientes (padrões que mantemos ao longo da vida que influenciam no modo como nos percebemos, nos relacionamos e interagimos uns com os outros);
Combater o capacitismo (é preciso reconhecer e identificar atitudes capacitistas para evitar constrangimentos e combater o preconceito);
Preparar o RH da empresa para mapear cargos e funções; análise da acessibilidade; sensibilização; recrutamento e seleção; avaliação da saúde ocupacional; treinamento; e retenção de profissionais com Down.
As empresas precisam envolver todas as suas equipes em ações de inclusão. “Se necessário, devem contar, inclusive, com o apoio de uma consultoria especializada”, conclui o defensor André Naves, que é também Conselheiro do Chaverim.
Por Andreia Constâncio
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