Até 25 de abril de 1974, Portugal viveu sob uma ditadura cuja estabilidade social assentava na chamada trilogia dos Fs: Fátima, Futebol e Fado. Nesses tempos, estes estabelecimentos eram locais de romaria frequente. Mas hoje, o único F que se mantém popular entre as gerações pós-revolução é o futebol.
A popularidade do gênero sofreu com a associação ao velho regime, apesar da distinção como Patrimônio Imaterial da Humanidade em 2011 e o sucesso recente de jovens cantoras, como Gisela João ou Carminho. Elas não atuam, porém, nas casas de fado, onde o line-up se compõe, salvo raras exceções, de fadistas em início de carreira ou até mesmo amadores.
Os turistas não se importam, e é a estes que as casas de fado procuram agradar. Fazem-no mais pela música do que pela comida, que é frequente ficar muito aquém, em quantidade e qualidade, do que se encontra fora deste universo. Já a conta costuma ir bem além – e com consumo mínimo, em muitos casos, para garantir que se pague pelo espetáculo.
Mas que a música é bonita, isso é. E, quando se apagam as luzes e soam os primeiros acordes, todo o resto se esquece. Ou se deve esquecer. Veja, a seguir, 15 casas de fado em Lisboa:
Senhor Vinho
Uma publicação compartilhada por Casa de Fado Sr. Vinho Lisboa (@sr_vinho)
É uma das casas de fado que melhor equilibra os atrativos artísticos e gastronômicos. O arroz de tamboril e o bacalhau da casa são tão famosos como Maria da Fé, a fadista proprietária. Por ali passaram também outros nomes fundamentais da canção, como Jorge Fernando (que atuou durante vários anos com Amália Rodrigues) ou Mariza, que conquistou relativa fama no Brasil. Por ficar fora das zonas mais turísticas da cidade, o Senhor Vinho é, talvez, a casa de fado onde há um público português mais fiel. O que só pode ser bom sinal.
Onde? Rua do Meio à Lapa, 18, Madragoa.
Quando? De segunda-feira a sábado, das 20h às 2h.
Quanto? Consumo mínimo de € 37,50. O menu de jantar custa € 59,50 sem bebidas.
Tasca do Chico
Quem pretender evitar pagar uma pequena fortuna pela refeição apenas pelo prazer de ouvir fado, tem na Tasca do Chico uma boa alternativa. Todas as noites, diversos fadistas amadores se reúnem neste bar clássico do Bairro Alto. É o chamado fado vadio, em que o palco fica aberto quem queira cantar, novo ou velho, experiente ou estreante. O resultado é, quase sempre, uma noite bem animada. Para entreter o estômago, há tábuas de queijos e embutidos, bem como petiscos diversos. A Tasca do Chico tem uma sucursal mais recente em Alfama com o mesmo nome e conceito. Convém reservar.
Onde? Rua do Diário de Notícias, 39, Bairro Alto.
Quando? Diariamente, das 23h30 à 1h30.
Quanto? Consumo mínimo de € 10.
Casa de Linhares
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No antigo Palácio dos Condes de Linhares, o que impressiona, em primeiro lugar, é a arquitetura: tetos em cúpula, enormes colunas de pedra e paredes grossas decoradas com tapeçarias majestosas. Mas o elenco de fadistas também não desilude: é liderado por Jorge Fernando, figura maior do gênero, que gravou com os maiores nomes da canção e colaborou com inúmeros músicos nacionais e internacionais – inclusive com alguns brasileiros, casos de Zeca Assumpção, Toninho Horta ou Mauro Senise. O menu, que aposta em sabores típicos, é responsabilidade do chef João Pedro Dionísio.
Onde? Beco dos Armazéns do Linho, 2, Alfama.
Quando? Diariamente, das 20h às 2h.
Quanto? A entrada custa € 15 e o menu de jantar, € 85 sem bebidas.
Maria da Mouraria
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De Maria Severa dizia-se que tinha o poder de encantar pela voz. Prostituta e cantora, tornou-se uma figura mítica em Lisboa, sobretudo no bairro da Mouraria. Foi aí que ela viveu e morreu, com apenas 26 anos. Em 2013, a sua antiga casa foi reconstruída e transformada neste restaurante gerido pelo Museu do Fado, em que os petiscos tradicionais (e alguns pratos mais substanciais) acompanham os concertos. O espaço é gerido pelo fadista Hélder Moutinho, que também canta, tal como o jovem Marco Oliveira. E também já por ali passaram, em ocasiões especiais, algumas convidadas de grande nível, como Gisela João ou Raquel Tavares.
Onde? Largo da Severa, 2, Mouraria.
Quando? De quarta-feira a domingo, das 20h à 0h30.
Quanto? O menu de jantar custa € 55 com bebidas.
Café Luso
É provavelmente a mais famosa das casas de fado da cidade, com mais de 90 anos de atividade, a grande maioria deles nas atuais instalações: as antigas adegas e cocheiras do Palácio de São Roque, no Bairro Alto. No início da sua carreira, Amália Rodrigues atuou no Luso com frequência. Além disso, um dos seus discos ao vivo foi gravado ali, em 1955. Hoj,e as atrações não são tão renomadas: a diretora artística é a fadista Elsa Laboreiro, e o line-up conta com nomes como Yola Dinis, Catarina Rosa, Filipe Acácio e Cristiano de Sousa, além de convidados semanais. Para acompanhar, há comida portuguesa com um toque contemporâneo.
Onde? Travessa da Queimada, 10, Bairro Alto.
Quando? Diariamente, das 19h30 às 02h.
Quanto? O menu de jantar custa € 46 sem bebidas.
Adega Machado
A casa de fado, que completou 85 anos em 2022, passou um tempo fechada entre 2009 e 2012 para obras de renovação que lhe deram uma segunda vida. Da Adega Machado original restou a icônica fachada, de autoria do artista plástico Thomaz de Mello – nascido no Rio de Janeiro – , e pouco mais. O seu interior é moderno, dividindo-se por três pisos diferentes: a sala da fadistagem, como lhe chamam, fica na cave. Nos restantes encontram-se uma petiscaria e um terraço. Na Adega Machado não se janta apenas, também é possível assistir ao fado à tarde, entre vinhos e petiscos no Fado Inside the Box.
Onde? Rua do Norte, 91, Bairro Alto.
Quando? Diariamente, das 19h30 às 2h (Fado Inside the Box das 17h às 18h).
Quanto? O menu de jantar custa € 47 sem bebidas.
O Faia
A fundadora d’O Faia, Lucília do Carmo, foi uma figura fulcral na história da canção. Não só pelo que gravou e cantou – em Portugal e no estrangeiro – mas também pelo filho que teve, Carlos do Carmo, que se viria a tornar, também ele, um dos maiores fadistas portugueses. O Faia, que no início se chamava Adega da Lucília, já não está na família, mas continua a ser uma referência em Lisboa, graças a dois veteraníssimos que fazem parte do leque de artistas: Lenita Gentil e António Rocha. A eles juntam-se outros bons fadistas da nova geração. O menu também junta o clássico ao moderno, nos sabores e apresentação.
Onde? Rua da Barroca, 54-56, Bairro Alto.
Quando? De segunda-feira a sábado, das 19h30 à 1h.
Quanto? O menu de jantar custa € 67 sem bebidas.
A Baiúca
Em Portugal, “baiúca” significa “taberna pouco limpa”. Ora, esta A Baiúca, de Alfama, foi, em tempos uma taberna, embora não se possa avaliar o grau de asseio que ali se praticava. Hoje é mais casa de fados que taberna, embora continue a conservar alguns elementos dessa época, como as mesas corridas que juntam desconhecidos ao jantar, os azulejos na parede ou a cozinha portuguesa simples, sem grandes malabarismos. Os fadistas que por ali passam são, na sua grande maioria, gente do bairro, o que lhe dá um ambiente bem mais castiço do que em outros espaços do gênero. E até a própria cozinheira costuma participar nas cantorias.
Onde? Rua de São Miguel, 20, Alfama.
Quando? Diariamente, das 20h às 0h.
Quanto? Não há consumo mínimo, mas o preço médio fica em torno de € 25.
Parreirinha de Alfama
Bruno Costa e Paulo Valentim na sala de jantar da Parreirinha de Alfama.Parreirinha de Alfama/Divulgação
Antiga tasca e carvoaria, a Parreirinha tornou-se uma casa de fado em meados do século passado pela mão de Argentina Santos, que ali começara como cozinheira, ainda jovem. Mesmo depois de se tornar proprietária e principal voz a se apresentar na casa, a fadista nunca largou os tachos. Ainda hoje, o arroz doce que se serve é o da Tia Argentina, como era carinhosamente chamada. Ao chegar aos 90 anos, passou o testemunho a dois jovens músicos, Bruno Costa e Paulo Valentim, que fazem questão de prosseguir a boa tradição da casa, introduzindo-lhe, pelo caminho, novos elementos, como as noites em que o tango se mistura com o fado.
Onde? Beco do Espírito Santo, 1, Alfama.
Quando? De terça-feira a domingo, das 20h à 1h.
Quanto? O menu de jantar custa € 55 sem bebidas.
Clube do Fado
Foi no Clube do Fado que Cuca Roseta, um dos nomes grandes da nova geração de fadistas, ficou conhecido. Cantou ali durante mais de dez anos em permanência e ainda volta, de vez em quando, para recordar o sabor do bife da casa e, com sorte, cantar uma ou duas músicas. Mas isso não é hábito. Hábito, ali, é ouvir seus contemporâneos, como Ana Maria, Carlos Leitão e Lina. Na sala de jantar, há um antigo poço de origem moura onde os clientes podem fazer um desejo.
Onde? Rua de São João da Praça 94, Alfama.
Quando? Diariamente, das 19h30 à 1h.
Quanto? Não há consumo mínimo, mas os clientes devem obrigatoriamente jantar na casa e os preços médios ficam em torno de € 35.
Mesa de Frades
Uma casa única em Lisboa, muito por causa do seu anfitrião, o guitarrista Pedro de Castro. Por aqui passaram nomes como Carminho, Ricardo Ribeiro ou Ana Sofia Varela. O cenário também merece destaque: é uma antiga capela que conserva os belos azulejos de outros tempos.
Onde? Rua dos Remédios, 139A, Alfama.
Quando? De segunda-feira a sábado, das 20h30 às 2h.
Quanto? O menu de jantar custa € 60 com bebidas.
Associação do Fado Casto
Uma publicação compartilhada por Associação do Fado Casto (@associacao_do_fado_casto)
Não é bem uma casa de fado, no sentido clássico da expressão. Está mais para um bar de fados, com espírito associativo, à responsabilidade de Pedro de Castro, onde se pode também jantar sob reserva. Por ali passam alguns dos habituais fadistas do Mesa de Frades (veja acima) – que também é de Pedro de Castro –, como Teresinha Landeiro ou Rodrigo Rebelo de Andrade, entre outros. O espaço funciona com um ambiente muito mais informal que o da maioria das casas de fado. Tanto que os fadistas vão sendo intercalados com a atuação de um DJ. Que também toca fado, sim, mas não só.
Onde? Rua de São Mamede, 8A, Sé.
Quando? De segunda-feira a sábado, das 20h30 às 2h30.
Quanto? O menu de jantar custa € 45 com bebidas.
Tasca da Bela
Uma publicação compartilhada por Tasca da Bela -Casa de Fados (@tascadabela)
Apesar de não ter a mesma história longa de outros espaços dedicados ao fado, a Bela já conquistou um lugar muito próprio neste meio. Sobretudo pelo conceito: fado de todos e para todos, cantado tanto por grandes profissionais da canção que ali aparecem sem avisar, como por estreantes que decidem se arriscar pela primeira vez fora do chuveiro. Antes da visita convém confirmar se é uma das noites de fado, já que elas vão sendo intercaladas com apresentações de outro gêneros ou até declamações de poemas. Para comer, há uma lista generosa de petiscos servidos.
Onde? Rua dos Remédios, 190, Alfama.
Quando? De quarta-feira a domingo, das 20h às 2h.
Quanto? O menu de jantar custa € 45 com bebidas.
Devagar Devagarinho
Uma publicação compartilhada por Restaurante DevagarDevagarinho (@restaurantedevagardevagarinho)
É uma tasca típica, muito frequentada na hora de almoço por trabalhadores da aérea, adeptos do serviço rápido e da comida simples, mas bem confeccionada – sobretudo peixes e carnes grelhadas. Mas é muito mais do que isso, como as inúmeras fotografias de fadistas nas paredes deixam adivinhar. Todas as quartas e sextas-feiras à noite o Devagar Devagarinho transforma-se numa sala de espetáculos inesperada, mas castiça, com um elenco regular ao qual se juntam, com frequência, os próprios empregados, num ambiente festivo sem a formalidade das casas de fado mais clássicas.
Onde? Travessa Larga, 15, Santa Marta.
Quando? De segunda a terça-feira, das 12h às 15h, e de quarta a sexta-feira, das 12h às 15h e das 19h às 2h.
Quanto custa? Não há consumação mínima e o preço médio fica em torno de € 9.
Tasca do Jaime
Já foi um segredo mantido longe dos roteiros turísticos, mas as redes sociais e as publicações de viagens transformaram tornaram a pequena tasca de Jaime e da mulher Laura um dos recantos mais concorridos da Graça, sobretudo durante as tardes de fim de semana. É quando desfilam por ali uma série de fadistas amadores, de níveis de talento variados. E apesar de muitos serem habitués, o palco está completamente aberto a quem queira atuar. O truque aqui, para poupar dinheiro, é ficar em pé e ir petiscando: um copo de vinho aqui, um bolinho de bacalhau ali.
Onde? Rua da Graça, 91, Graça.
Quando? Aos sábados, domingos e feriados, das 16h às 20h.
Quanto? Não há consumação mínima e o preço médio fica em torno de € 15.
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