A pele é essa capa sensível que nos recobre e nos assegura uma existência corpórea. Mas isso não significa que terminamos ali, onde a epiderme roça a atmosfera. Ela não é a última fronteira do nosso ser. Podemos não ver nem tocar, mas transportamos por aí outros corpos além do físico, o que sofistica ainda mais o nosso entendimento do que é a vida na Terra.
As aulas de Biologia na escola nos esclareceram sobre o que é elementar em nosso cotidiano: nos nutrir e, com isso, ter energia para realizar uma série de atividades diárias. Entretanto, não somos máquinas movidas a diesel. Nossos pensamentos, sentimentos e intuições também fazem parte de nós e pulsam em determinadas vibrações.
O que é a energia?
Quando ouvimos “tudo é energia”, podemos interpretar que, por trás de cada coisa que existe, encontramos uma rede de sustentação, uma teia de energia vital, cujo espectro se alonga das manifestações mais concretas às mais tênues. Ela é chamada Qi, pela medicina chinesa, e de Prana, pela tradição iogue. Há milênios, essas sabedorias afirmaram o que hoje a ciência comprova: os átomos que originam a matéria são pura energia em trânsito.
“A energia é informação em movimento. Isso significa que tudo que nos diz respeito, até mesmo nossos pensamentos inaudíveis, desejos secretos e a vibração dos mais minúsculos átomos dentro de nós, se comunica em um cenário mais grandioso. Também indica que o que quer que aconteça no mundo conhecido e desconhecido à nossa volta cria uma mudança dentro de nós”, define a terapeuta
energética americana Cyndi Dale no Manual Prático do Corpo Sutil: O Guia Definitivo para Compreender a Cura Energética (Cultrix).
A energia quer circular
De acordo com a medicina energética, somos constituídos de campos, canais e centros de energia. Os campos dizem respeito às vibrações que irradiamos e que circulam à nossa volta; os canais são como veios de luz que conduzem a energia através de nós; e os centros são corpos energéticos cuja função é transmutar e transformar nosso estado vibracional.
Como tudo está interligado no macro e no microcosmo, a realidade sutil se interconecta ao plano físico. Por exemplo, cada órgão do nosso corpo desempenha uma função que pode ser monitorada por meios científicos, mas também vibra numa determinada frequência, que pode perder ou ganhar equilíbrio de acordo com nosso estado mental ou emocional. No primeiro caso, adoecemos; no segundo, restauramos a saúde. Assim entende a medicina tradicional chinesa.
“Os meridianos ou canais equivalem à nossa constituição energética, levando informação para o estabelecimento e o restabelecimento da saúde. Eles representam a ligação entre o céu e a terra, cuja principal função é fazer a comunicação entre o interno, os órgãos, com o meio externo, suas influências estacionais, como também as emoções, o alimento e a respiração”, explica Antonieta Bonifácio dos Reis, docente em acupuntura.
Pilares meridianos
Essa rede energética consiste numa malha de 12 meridianos principais, circuito que vai da cabeça para os pés e dos pés para a cabeça, além dos meridianos secundários, rota transversal que oferece suporte para a matriz. Quanto mais naturalmente a energia fluir por esse mapa, livre de bloqueios energéticos ou de excessos, melhor nos sentiremos.
“Tudo o que resiste ao fluxo natural da impermanência e da ciclicidade interfere na condução do Qi [energia vital] pelos meridianos. Uma raiva contida, uma tristeza não sentida, um excesso de preocupação, como também uma alimentação desequilibrada até a invasão de frio ou calor no corpo podem causar doença”, ressalta Antonieta.
Dimensões interligadas
A dinâmica dos nossos órgãos evidencia como o ser humano é multidimensional, ou seja, composto por várias instâncias que se afetam mutuamente. “Às vezes, precisamos fazer alguma coisa física para estimular essas energias sutis, mas também precisamos estimular energias sutis para encontrar um equilíbrio físico”, pontua Cyndi. As sabedorias holísticas estabelecem diferentes nomenclaturas para a variedade de corpos que nos compõem. Há correntes que identificam cinco camadas: física, etérica, emocional, mental e espiritual.
A etérica é aquela que faz a ponte entre o corpo físico e os mais sutis. Outras lidam com as dimensões física, morfológica, psíquica, áurica e luz universal. Detalhando um pouco mais, chegamos a sete corpos: físico, duplo etérico, astral, mental, causal, búdico e átmico. Em todos os casos, vê-se uma gradação energética, partindo da esfera mais grosseira, corpórea, até a consciência mais elevada e, portanto, associada ao plano divino.
“A constituição energética do ser humano é um complexo de energia que reúne toda a história da humanidade, filtrado pela ancestralidade, até chegar à nossa singularidade. Ele forma nosso campo repleto de informações do tempo e do espaço em que nascemos, informações da origem paterna e materna, de outros tempos da nossa existência e das marcas das interações que experimentamos desde o nascimento e até antes”, amplia Ana Lúcia Leite, terapeuta e professora da Escola da Aura.
Pode parecer uma teia intrincada demais para entendermos, mas, na prática, não se trata de algo tão hermético. Essa visão entende que nossas experiências e memórias ficam gravadas na dimensão energética. Esses registros podem ser padrões, crenças e outras dinâmicas que influenciam nossa forma de agir no mundo. Tudo isso é impalpável, sim, mas pode ser transmutado.
Cuidado que nos protege
Estar ciente da amplitude do nosso ser nos permite reconhecer nossos limites e cuidar melhor da gente. Quantas vezes queremos algo do físico sem levar em conta outros campos mais sutis? Quantas vezes não achamos que vamos terminar nossos afazeres em uma quantidade de tempo sem levar em conta nosso estado emocional e a nossa energia? Ou então desconsideramos sensações e percepções provocadas em nós por determinados ambientes ou pessoas?
Ao se ter uma visão mais completa dos nossos corpos, pode-se respeitá-los e valorizá-los em suas múltiplas expressões. Talvez aí esteja uma trilha confiável para a harmonia. “Para nos conectarmos com essa dimensão etérea, é importante despertarmos nossa intuição e os sentidos sutis. Os sinais estão à nossa volta o tempo todo e podemos percebê-los por meio de percepções captadas pelo nosso sexto sentido, sonhos, impressões, sensações como um pressentimento de ir a algum lugar em vez de outro”, exemplifica Ana Lúcia.
Não é à toa que algumas pessoas dizem ter o corpo fechado, pois a atenção dedicada à realidade sutil nos ajuda na proteção, impedindo que nosso sistema seja atravessado por energias que não respaldam o nosso bem-estar nem a nossa essência. Pela via oposta, favorece a penetração de frequências que fomentam nossa evolução espiritual e ainda magnetizam nosso ímã interno. “Nossos limites energéticos podem atrair para nós aquilo de que precisamos: cura, orientação, pessoas, eventos, relacionamentos saudáveis e lições de vida”, enumera Cyndi.
Técnicas para eliminar a energia negativa
A higiene energética pode ser feita por meio de práticas como reiki, visualizações, orações e meditações. “Práticas meditativas são bem importantes, como a Meditação das Rosas, principal ferramenta da Escola da Aura para esse cuidado, pois nos aproxima da origem luminosa do ser”, observa Ana Lúcia. Outra maneira de integrarmos a esfera sutil é por meio do yoga.
“A existência é um sinal para nos conectarmos com a dimensão chamada sutil, não por ser mais importante que a corporal, mas por ser conectada. Somos seres multidimensionais, e o Prana é uma manifestação primordial do ser”, diz Raquel Peres, professora de yoga.
Cuidados diários para manter as energias
Segundo as Escrituras Védicas, a malha energética vital se espraia da seguinte forma: “Existem vayus (ventos) que sopram e conduzem, como canais energéticos, e tipos de Prana, de maneira que o alento chega a todos os tecidos. Existe a necessidade de equilibrar o Prana responsável pela nutrição com aquele que é responsável pela purificação, bem como garantir o fluxo por meio desses canais (vayus)”, esmiuça Raquel.
Podemos combinar diferentes cuidados em nosso dia a dia para manter nossa energia em bom estado. “Uma alimentação nutritiva e com poucas toxinas, o não uso de psicoativos, a prática de yoga enquanto respiração, meditação e movimento nos nutrem o suficiente para estarmos protegidos na maior parte das situações, mas é interessante que haja também um certo recolhimento e a prática de mantras”, recomenda a professora de yoga.
Há ainda outros gestos bastante acessíveis, que só requerem um tantinho de abertura para o que eleva nossa vibração. “O cultivo da alegria, a contemplação, o significado que damos à nossa vida, brilho no olhar, atitudes e ações compassivas e benevolência conosco e com os outros”, indica Antonieta. Depois é só sentir esse estado reverberar em nossos diferentes corpos e desfrutar dessa energia boa, que é nossa, mas que também transborda para quem tiver a sorte de cruzar o nosso caminho.
Por Raphaela de Campos Mello – revista Vida Simples
É jornalista e exulta sempre que é tocada pela energia sutil de outro ser humano e vice-versa.
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