Por que uma pessoa que não gosta de cerveja se interessaria em tomar uma? Porque nós sabemos o quanto as cervejas são incríveis e nossa paixão é contagiante. O fato é que, muitas vezes, as pessoas que não gostam de cerveja dizem isso se baseando em experiências vividas com latinhas das cervejas populares. Dito isso, fica fácil de entender como podemos começar a apresentar o maravilhoso mundo das cervejas especiais.
Vamos começar assim: a pessoa que não gosta de cervejas não bebe nada? Se a resposta for sim, não há por que tentar mudar isso, vamos simplesmente respeitar; mas se a resposta for o consumo de alguma outra bebida alcoólica, isso nos dará um enorme facilitador.
Cervejas para quem não curte o amargor
Algo que afasta alguns consumidores não cervejeiros é o amargor, e aqui vai um aprendizado que esses anos todos de cerveja me trouxe: não gostar de amargor não quer dizer necessariamente que a pessoa deseje algo doce, basta não ser amarga. Esse amargor pode afastar o consumidor, mesmo que esteja associado com bastante doçura, como é o caso de uma American Barley Wine. Portanto, manere nos IBU,
uma vez que o amargor do malte é muito mais facilmente tolerado do que o amargor do lúpulo.
Para quem não gosta, simplesmente por não conhecer, a maior de todas as sugestões: ofereça algo de harmonização. Busque os clássicos: queijos com Stouts, cervejas ácidas belgas com sobremesas à base de chocolate branco, Bock com carne vermelha, Weissbier e salsicharia alemã. Repare que, nesses casos e daqui para frente, vamos nos distanciar das cervejas populares, trazendo notas sensoriais marcantes como o café, as frutas, a caramelização.
Cervejas para quem gosta de vinhos
Historicamente, muito se fala sobre a popularidade da harmonização dos vinhos com comida, muita coisa boa surge desse encontro. Mas o que podemos fazer com todas as variações das cervejas é algo insuperável. Vinhos, por exemplo, são, muitas vezes, servidos de uma forma glamourosa, os brancos são leves, frutados e refrescantes, os tintos mais ricos e complexos, com acidez e tanino.
Em relação ao serviço, está tudo certo, temos lindas taças; e falando das notas sensoriais, as fantásticas Flanders podem ser ofertadas aos que preferem os tintos, e Lambics trazem muito do que hoje é celebrado nos vinhos naturais. Se isso soar muito selvagem para você, uma Tripel carbonatada, alcoólica, frutada e equilibrada é uma excelente opção.
Cervejas para consumidores de destilados
Destilados são outra boa porta de entrada. Consumidores de uísque curtem o defumado; da cachaça, as madeiras, nossas cervejas que descansam em barris de madeira trazem essas notas bem destacadas. Quem aprecia um bom brandy pode curtir uma Barley Wine; gin traz notas condimentadas assim como muitas cervejas belgas. Mas se a opção é a vodka, olharemos para o que a bebida acompanha, uma vez que a vodka traz um álcool neutro.
Cervejas em drinks
Por algum motivo que eu, particularmente, ainda não consigo entender, não há estímulo quase nenhum para o uso das cervejas em coquetelaria. Quando a cerveja é utilizada, temos duas vantagens, uma é o aumento do consumo em si e a outra é poder apresentar a cerveja ao não consumidor.
Voltamos ao começo da nossa conversa, os cervejeiros vão preferir a cerveja, mas os não cervejeiros podem descobrir que gostam do nosso líquido sagrado quando ela for usada como base de drinks. Use uma Sour no lugar de um espumante, complete um drink que seria preparado com Bitter com um pouco
de uma IPA, abuse das Pastry Stouts nos preparos que levam licor de café e me conte depois como foi.
Publicado pela Revista da Cerveja.
Por Ronaldo Rossi
Chef de cozinha, professor e consultor na área cervejeira e de gastronomia, beer sommelier e fundador da Cervejoteca.
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