Vamos entender alguns mecanismos psíquicos sobre os desafios que existem para quem tem dificuldade em dar as primeiras pedaladas depois de adulto. Primeiramente é fundamental saber qual o significado e o significante da bicicleta em nossas vidas.
É fácil entender o significado, para isso basta recorrermos ao dicionário: “… a bicicleta é um veículo de duas rodas presas a um quadro, movido pelo esforço do próprio usuário (ciclista) através de pedais, sendo assim um velocípede de duas rodas…” (Wikipédia). Isso é comum para todos nós.
Já o significante está ligado a singularidade de cada um, e para defini-lo precisamos analisar tudo o que está atrelado na palavra bicicleta em nossa mente e em nossos sentimentos. Por exemplo: pessoas, lugares, experiências, acidentes, conquistas, encontros, imagens, sons, cheiros, sensações etc. Tudo o que está registrado em nosso “HD cerebral”, como diriam os psicanalistas tecnológicos (risos).
Então se uma pessoa adulta tem dificuldades para iniciar o seu pedal, é importante saber os motivos inconscientes que sabotam as suas ações.
Fantasmas que assombram quem deseja pedalar
Vou citar dois assuntos comuns e que atrapalham muitas pessoas.
Primeiro
Nas primeiras tentativas de pedalar, quando pessoas como o próprio pai, um irmão ou um amigo zombavam, humilhavam ou mesmo diziam algo negativo ou agressivo, deixavam seus registros de experiências ruins, um sofrimento para a criança.
Nessa condição, existirá uma resistência do adulto para aprender, pois inconscientemente ele não quer passar por tudo aquilo novamente, aquela experiência ruim que causou dor. Assim um mecanismo de defesa psíquico que trabalha para afastar-nos do desprazer e para aproximar-nos do prazer vai agir e por isso… “Não queremos aprender a pedalar enquanto adultos”.
Segundo
Devido a necessidade primitiva de proteção, desenvolvemos uma inevitabilidade de reconhecimento e aprovação daqueles que pertencem ao nosso grupo social. Por isso, estamos psiquicamente a todo momento buscando a validação para sermos aceitos e amados. Assim, com um desequilíbrio, um erro, uma queda ou, até mesmo, uma bicicleta ou um acessório que não seja bem-visto pelo outro, podemos achar (inconscientemente) que seremos excluídos ou não aceitos no grupo social.
Por consequência, criamos uma fantasia e um medo imaginário que nos faz sabotar nossas tentativas em pedalar, preservando nossa percepção de permanência e aprovação no grupo… “É melhor não tentar, ao errar tentando”.
Procure por ajuda
Por esses e entre outros motivos ocultos, recomenda-se o acompanhamento de profissionais da saúde mental e física para contribuírem no processo de aprendizagem de um adulto, minimizando seus sofrimentos psíquicos para o desafio das primeiras pedaladas.
Vale lembrar também que esses mecanismos psíquicos de sabotagem podem existir no aprendizado de outras modalidades esportivas, nos aprendizados de pilotagem de veículos como motos e carros ou, até mesmo, nos afazeres do dia a dia. Portanto, não deixe de cuidar da sua saúde mental e física com orientação adequada de um psicanalista e um personal trainer.
Texto originalmente publicado na Revista Bicicleta (Edição 128)
Por Anderson do Prado
Psicanalista e personal trainer
Fonte: Read More