Preocupação diária de muitos, a violência geralmente é associada a agressões físicas e atos que visam causar dor, dano ou sofrimento. O Brasil, inclusive, figura como o nono país mais violento do mundo, de acordo com a classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A definição da OMS sobre violência engloba o uso de força física ou poder, seja na forma de ameaça ou ação, direcionada a si, a outros indivíduos ou a grupos e comunidades, com potencial para causar sofrimento, óbito, lesões psicológicas, impacto negativo no desenvolvimento ou privação.
Nesse cenário, Solange Tedesco, terapeuta da SIG – Residência Terapêutica, afirma que “a violência por si só não é capaz de fazer com que uma pessoa desenvolva um transtorno mental, mas é um gatilho muito forte para uma crise de quem já tem uma predisposição”.
O que chamamos de violência?
Em uma discussão ampla e importante, voltamos para a problemática violência e saúde mental, que pode entrar em três categorias, segundo a especialista: os indicadores de violência como um dos fatores de correlação a problemas de saúde mental, o estigma que a ‘desrazão’ é normalmente inferida aos quadros psiquiátricos como os que causam temor, e a violência, necessária ou suficiente, aquela que, muitas vezes, extrapola a ética do cuidado, em relação ao tratamento involuntário ou compulsório que algumas situações de crise impõem.
Frente às terríveis cenas de violência contemporânea, no nosso dia a dia, nas imagens das guerras, da fome, do sofrimento de doenças e pobreza e nas desigualdades do próprio cuidado, podemos dizer que o sofrimento humano provocado pode ter ‘boas intenções’? Existe violência justificada?
“Outro problema nessa definição está no termo ‘agressão física’. Sabemos que as mais requintadas formas de tortura, as que produzem uma enorme desorientação emocional, desorientação dos sentidos que podem nos causar danos irreparáveis para a mente, corpo e cérebro podem não envolver qualquer agressão física direta“, comenta Solange Tedesco.
“Temos inúmeros exemplos de violência no ambiente de trabalho e nos relacionamentos, também chamado de tóxicos, que submetem na desigualdade formas insuportáveis de existência. Talvez o termo violência possa melhor ser descrito como formas coercitivas de infligir danos, dor e morte”, completa.
Saúde mental e violência
Recortando essa discussão para as problemáticas da saúde, a violência pode ser entendida, de acordo com o Ministério da Saúde, como todo ato intencional de força física ou poder, ameaçado ou real, contra si, outra pessoa ou sobre um grupo ou comunidade, que resulta ou tem alta probabilidade de resultar em lesão, dano psicológico ou privação.
Aqui ressalta-se que a violência física ocorre quando uma pessoa está em relação de poder com a outra. Mas onde essa evidência é também definida? “Discutimos no dia a dia o impacto dessa temática na nossa vida. No sistema de residência urbana, a cidade nos permeia nas ações cotidianas. Nossos residentes, por exemplo, transitam na cidade e assistem e participam do horror da fome na rua, de pessoas abandonadas que vivem nos arredores dos metros, dos teatros, nas ruas, assistem os noticiários e leem jornais”, explica.
Marcas do tratamento
Ainda de acordo com Solange Tedesco, alguns dos residentes da SIG carregam marcas da violência da vida e do próprio tratamento. “Muitos ficaram anos institucionalizados, sem voz ou opinião, outros foram submetidos a extremos danos morais, financeiros e físicos, sem compreender como isso se relacionava ao seu quadro psicopatológico, muito menos ao seu tratamento”, comenta. “Falamos muito aqui sobre os fatores estressantes, individuais e coletivos e nossas estratégias, também individuais e coletivas, para lidar com as condições desfavoráveis inerentes à vida.
De fato, a violência em suas diferentes frentes está, sim, relacionada ao risco para o adoecimento psíquico e sofrimento emocional, tanto nas vulnerabilidades biológicas, genéticas, psicológicas e ambientais como nos riscos das adversidades duradouras, principalmente no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
“Temos, por enquanto, a tarefa da melhora possível da qualidade de vida e da qualidade de vida em saúde. A prevenção é mais eficaz. Os estilos de vida saudáveis, se possível, são mecanismos potentes de prevenção”, finaliza Solange Tedesco.
Por Isabela Rocha
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