Nunca fui uma pessoa muito boa em fazer escolhas. Até mesmo aquelas mais simples e clichês, como qual café pedir em uma cafeteria ou qual roupa vestir para sair, conseguem me roubar bastante tempo. Como a boa libriana que sou, deposito toda a culpa das dúvidas no signo, caracterizado por sempre nos fazer ponderar tudo para agir com equilíbrio.
E às vezes é isso mesmo o que acontece. Mas noutras, cá no fundo, sei que essa dificuldade em fazer algumas escolhas vem também dos meus medos, traumas e inseguranças. Juntos, eles ganham força e me fazem sempre pensar mais de duas vezes antes de ir por um caminho.
As escolhas que nos colocam em movimento
Toda a nossa vida é pautada pelo resultado de nossas escolhas. E isso às vezes nos assusta, não é? Somos chamados pelas decisões e elas, das menores às maiores, têm o poder de mudar a nossa trajetória, além de nos trazer consequências desconhecidas. Mas são as escolhas que nos colocam em movimento. E a falta delas pode nos condenar a um caminho de sabotagens e até alguns arrependimentos.
A verdade é que, por mais desafiador que possa parecer optar por esta ou aquela proposta, precisamos dar saltos de fé, ainda que baseados em nossa intuição e em nosso coração. Inclusive, eu acredito que são esses os principais ingredientes para a mistura das boas escolhas, aliados ao autoconhecimento e à coragem para assumir novos riscos.
Eu sei: encontrar essa receita não é uma tarefa fácil na prática, ainda mais quando carregamos uma grande bagagem repleta de inseguranças. Mas eu acho que há maneiras possíveis de abaixar a voz de nossas indecisões e adiar cada vez menos os passos importantes e decisivos de nossa vida. Então, a partir de tudo isso, como será que podemos entrar em ação e passar a fazer escolhas mais assertivas?
Por que tamanha indecisão?
Primeiro, precisamos entender melhor como funciona esse mecanismo de escolhas dentro de nós. Buscando essa compreensão, eu conheci a Mariana Reis e a Tayná Amorim. Elas são psicólogas e, juntas, fundaram a Atenciosamente, uma marca que busca incentivar a atenção à mente, ao autocuidado e ser uma espécie de abraço gentil, como um bilhete que recebemos de uma pessoa querida.
As duas me explicaram que as nossas escolhas são feitas de apostas, de assumir riscos, de nos posicionar e lidar com as consequências, com as perdas e também os ganhos. “As escolhas são feitas de nós, são o resultado de um olhar para si e também para o mundo”, pontuam.
Segundo elas, escolher diz sobre quem somos. Mas, principalmente, fala também sobre o nosso passado, nosso presente e nosso futuro, “já que escolhemos levando em conta a nossa história e para onde queremos levá-la”, dizem. Ou seja, tudo está interligado às experiências que acumulamos ao longo da vida e às projeções que idealizamos para o porvir.
Autoconhecimento é fundamental para fazer boas escolhas
Isso me fez pensar que, quando somos crianças, as escolhas nos pesam menos e somos mais aptos e encorajados a tomar boas decisões. Por mais que recebamos influências externas de nossos pais e familiares, não pensamos tanto no momento de escolher entre nos sujar ou nos divertir em um parquinho cheio de areia, por exemplo.
Obviamente, escolhemos a segunda opção por ser ela a nos dar mais alegria. E pronto: às vezes vamos precisar lidar com as consequências entre lágrimas, depois de uma bronca dos adultos. E, em alguns casos, isso pode ser paralisante. Mas há também aquelas crianças que seguem se sujando muito por aí porque, para elas, a diversão é maior que qualquer briga.
Percebe como é diferente e como esses pequenos movimentos lá de trás podem ditar alguns comportamentos em nosso hoje? “Podemos fazer boas escolhas quando nos entendemos melhor. Esse processo de autoconhecimento exige tempo e engajamento, mas pode nos tornar mais habilidosos nisso”, explicam a Mariana e a Tayná.
Mais conhecimento, mais autoconfiança
Não tem jeito: a maioria dos processos que envolvem emoções mais profundas precisa passar também pelo autoconhecimento. Quanto mais nos conhecemos, mais autoconfiantes vamos nos tornando. E, assim, temos mais chances de voltar a nos divertir como aquela criança que fomos, identificando nossos gatilhos e aprendendo a lidar com cada um deles. “Conhecer-se é parte importante no processo de escolha, pois pode trazer mais tranquilidade e menos angústia. Assim, decisões podem ser mais conscientes e autênticas”, observam as psicólogas.
Fazer esse exercício de tomada de consciência e de reconhecer quem somos, quais são nossas crenças e qual a nossa essência não é simples. Leva tempo. E lidar com isso também é uma escolha que podemos fazer diariamente. Envolve paciência, escuta de si, erros e acertos, aceitação e compreensão. Mas não há dúvidas de que é este nos conhecer que vai nos preparar para um próximo passo nessa busca em sermos tomadores de boas escolhas: a vigília de nossos pensamentos.
Pensar menos, agir mais
Já percebeu que, quanto mais pensamos, mais confusos vamos ficando? Aqui, não falo daqueles pensamentos que nos ajudam a criar e a escrever, como no meu caso com este texto. Mas digo daqueles mais conflituosos, que parecem instalar um triplex em nossa mente, sempre tendendo mais para o lado negativo de uma situação do que para a possibilidade positiva que existe na mesma proporção.
É o famoso “e se”, sabe? “E se” eu escolher sair do meu emprego e nunca mais conseguir outro? “E se” eu deixar essa relação que já não me faz feliz e ficar sozinha para sempre? Não temos nenhuma garantia nesta vida.
No entanto, é o movimento de escolha que pode nos tirar dessas angústias e nos levar por novos caminhos bem mais bonitos e reais do que aqueles criados por nossos pensamentos. No fim das contas, só vamos saber o resultado ao agirmos e nos arriscarmos.
“Escolhas podem ser difíceis também porque implicam saber perder, uma vez que, quando escolhemos algo, não escolhemos outra coisa e isso pode nos angustiar”, observa Mariana. Muitas vezes, nem se trata de perder ou ganhar, mas daquilo que aprendemos quando tomamos um caminho. Nos tornamos mais fortes, mais orgulhosos de nós mesmos.
Mas pensamos tanto, tanto e, nisso, muitas vezes nos separamos daquilo que realmente desejamos e nos distanciamos cada vez mais da chance de ganhar histórias ainda mais satisfatórias do que aquelas que já vivemos. E, não: não há nenhum problema em pensar demais, nem em ponderar qual pode ser o melhor caminho para nós. Isto é, muitas vezes, considerado responsabilidade e cautela em não agir por impulso.
Fazendo boas escolhas
A grande questão é cuidar para que esses pensamentos não nos paralisem, levando sempre a adiar as decisões ou jogá-las para baixo do tapete. E sabemos bem que não é assim que funciona, porque uma hora ou outra nossas questões vão ressurgir. E o pior: se já for tarde demais, elas nos deixarão na companhia do arrependimento.
“Dificilmente uma pessoa se arrepende quando ela conhece bem as consequências de cada escolha, principalmente se tomou a decisão levando em consideração as suas intuições”, considera a psicóloga Naara Amim.
Para ela, fazer boas escolhas está atrelado ao equilíbrio entre o que diz a nossa intuição e as nossas responsabilidades. “Costumo dizer que a intuição é como a direção que o nosso coração aponta. É algo singular, relacionado com motivação, com aquilo que faz os nossos olhos brilharem”, pontua.
Decidir o caminho é mais importante que o destino
Já a responsabilidade entra para ser o equilíbrio entre o racional e o emocional de nossas escolhas. É sobre tomar uma decisão de forma responsável e consciente. “Os desafios se tornam superáveis quando a pessoa está motivada naquele caminho escolhido, sabendo das consequências para, quando surgirem os problemas, conseguir resolvê-los sem grandes frustrações”, completa.
E me fez lembrar do Fabrício Garcia. Ele é jornalista, poeta e o conheci por seu perfil no Instagram (@fabriciogvrcia), no qual ele compartilha um pouco de seu (e do nosso) dia a dia por meio das palavras e emoções.
Recentemente, Fabrício fez uma grande virada em sua vida, deixando o emprego em uma agência de publicidade e escolhendo viver aquilo que dá mais sentido para si. “Eu já estava infeliz com esse caminho há algum tempo, pensando no que eu poderia fazer e para onde eu poderia ir. Tenho esse privilégio de ter o meu trabalho como artista, com a loja online e as oficinas que ministro. Acho que isso possibilitou essa ruptura com o trabalho tradicional”, conta Fabrício.
Após pedir demissão, ele fez as malas partindo de São Paulo para Aracaju, em uma viagem que, inicialmente, duraria no máximo dois meses. “Tenho sempre essa faisquinha que me faz querer ficar pulando de lugar em lugar. Nunca planejo nada direito e faço as coisas meio impulsivamente. Esse processo todo de pedir demissão e decidir viajar foi assim, de uma hora para outra”, conta.
Fabrício nem sabia bem para onde queria ir, mas sabia que precisava se movimentar. E isso foi o suficiente. No fim, toda a viagem durou três meses, com uma parada no Recife e um saldo de mais 13 lugares novos que ele conheceu.
“Eu nunca estive muito certo de nada disso. Sou bastante inseguro, mas tenho tentado bancar alguns desejos. Fico pensando que nada disso é definitivo, sabe?”, explica. Ele não descarta voltar a trabalhar com publicidade, se der vontade e se vier a necessidade. Mas, por ora, esses caminhos que escolheu é que têm feito sentido para ele.
Assumindo os riscos
Essa capacidade de agir apesar do medo tem muito a ver com a coragem. Mas também com confiança. É sobre confiar em nossos desejos e em nossas capacidades de irradiante, de aprender com o que aparentemente não deu certo e levantar logo ali na frente, sabendo que sempre existirão novas escolhas, novos caminhos e um milhão de possibilidades diante de nós.
“Acabei virando ‘influencer de desemprego’ e isso é muito engraçado, porque não estou propriamente desempregado, né? Tenho a minha loja, as minhas oficinas. Mas esse movimento de renunciar ao trabalho tradicional, abdicar desse salário em troca da minha liberdade de ir e vir, acho que isso me trouxe algo muito valioso, que é o tempo”, conta Fabrício.
E isso ele só descobriu porque se arriscou. “Agora tenho muito mais tempo para tudo. Nem sei direito o que fazer com ele, não sei como vai ser estar em São Paulo tendo tempo, mas estou ansioso para descobrir”, concluiu.
Incertezas fazem parte de nós
As dúvidas, o medo e as incertezas sempre vão surgir, porque eles fazem parte de nós. Mas quando assumimos o risco, bancando as vontades do nosso coração, aprendendo também a nos escutar mais sem buscar as respostas no outro, encontramos a chave de nossas boas escolhas.
Podemos até trocar uma ideia aqui e outra ali, mas sem cair naquele abismo de tentar agradar aos outros o tempo todo, sempre lembrando de não permitir que a opinião das pessoas seja maior que o nosso desejo.
“Considerar demais a opinião dos outros, ou não reconhecer as próprias opiniões como consideráveis, é mais um dificultador de nossas escolhas. Ficar preso no medo de desagradar, decepcionar ou falhar pode nos paralisar”, lembram Mariana e Tayná.
Ao mesmo tempo, para dar estofo às nossas escolhas, podemos avaliar como nos organizar para que uma transição de carreira ou mudanças mais imponentes possam ser feitas de maneira organizada e, também, cautelosa. Afinal, dar voz ao coração não precisa significar jogar tudo para o alto sem nenhum planejamento, por exemplo.
Só não vale esperar sempre pelo momento perfeito (que não existe, você sabe) para agir. “Se algo der errado e a pessoa decidir voltar atrás e tentar outra possibilidade, a ideia é que ela consiga usar dessa experiência como aprendizado e sentir orgulho de ter seguido o coração”, avaliou Naara Amim.
Siga o seu coração
E, se ainda assim bater aquele medinho de escolher, podemos sempre nos perguntar: isso vai me fazer bem? Qual caminho me fará mais feliz? E mais: qual deles vai me aproximar de quem sou e do que quero realmente para a minha vida?
“Imagina ficar o resto dos anos pensando se ia dar certo ou não? Viver é arriscar o tempo todo a fazer escolhas sem garantia de sucesso. Porque só é possível saber se vai dar certo tentando”, finaliza Naara. Que a gente siga, então, se arriscando. E se escolhendo primeiro, em qualquer que seja a direção.
Por Débora Gomes – revista Vida Simples
É jornalista. E, com a ajuda da terapia, está aprendendo a escolher primeiro a si para depois olhar para o outro.
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