“Ele não te ama”. Os músculos do meu corpo ficaram tensos, o sorriso se desfez e a garganta fechou. Essa frase me foi dita pelo Zé. Ele foi meu professor de História do Brasil no cursinho, em 1990. Um cara inteligente, engraçado e uma das melhores pessoas que já conheci para conversar. Gostava demais dele.
Uma viagem inesquecível
Zé era também meu sogro, pai do Andre, primeiro namorado, marido e ex-marido. Viajávamos juntos: eu, ele e Andre. Zé adorava carros 4X4 em uma época na qual não havia modelos assim por aqui. Então, quando a empresa russa Lada veio para cá, comprou um Niva, vermelho. E lá fomos nós três de Niva até Cananeia, litoral de São Paulo, próximo ao Paraná. Propositadamente, Zé pegava as piores estradas de terra. Chacoalhávamos no carro. Mas era tão divertido… Passávamos dias incríveis, imersos em bate-papos sobre a vida, política, música, pequenices do cotidiano e até sobre a história do Brasil, que ele contava – e ensinava – de um jeito que nunca esqueci. É, como eu gostava do Zé…
Afastamento pós-separação
Quando meu casamento terminou, fiquei sem o Zé. A gente até tentou manter alguma proximidade: eu, ele e a Maria, a segunda esposa dele. Combinávamos de nos encontrar e, durante aquelas horas, era como se eu ainda pertencesse àquele universo de que gostava tanto. Mas o tempo foi passando. Andre se casou de novo e eu não era bem-vinda. Não pelo Zé. Mas pelo Andre.
Lições de amor e verdade
Foi muito difícil ouvir a frase que inicia esse texto. Eu amava Andre. Achava que as coisas podiam se resolver. Zé sabia que eu alimentava ilusões e me chamou para uma conversa. Sentada na poltrona da sala dele, disse que o filho não me amava mais e que só afirmava aquilo porque gostava de mim.
“Somente quem gosta verdadeiramente é capaz de dizer algo duro pelo bem do outro”. Nunca esqueci essa frase. Queria poder agradecê-lo. Demorei muitos anos para entender que estava certo. Zé morreu há pouco mais de um ano. Lembro-me dele quando preciso ter conversas difíceis com meus filhos: “estou lhe dizendo isso porque te amo muito e apenas quem ama assim consegue falar algo tão duro pelo bem do outro”.
Resiliência e crescimento pessoal
Ter me separado, aos 27, de um grande amor, se transformou em uma linha divisória. Me tornou mais madura e forte. Mostrou que sou maior do que supunha. Aquele casamento me acomodava em um espaço estreito. Não havia como florescer. Seria a sombra para que o outro se agigantasse. Acho que Zé sabia disso, desde o princípio.
Por Ana Holanda – revista Vida Simples
Adora cultivar relações e recentemente voltou a falar com Maria, a esposa do Zé.
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