Quem nunca ouviu o ditado que diz que “quando nasce um filho, nasce a culpa”? Pesquisas mostram que a culpa atinge as mães quase que de forma universal. Segundo Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva e autora do estudo Transmissão Intergeracional da Autocompaixão, o problema da culpa materna é a forma como ela é prevalente e crônica.
“Sabemos que a culpa acontece para motivar uma maior coerência entre nossas ações, expectativas e valores. Mas no caso da culpa materna, as expectativas são inatingíveis e os valores incoerentes, logo, é impossível se adequar”, explica.
A psicóloga conta que o paradigma vigente da maternidade de que a boa mãe é aquela que se doa completamente em termos físicos, emocionais, psicológicos e intelectuais gera frustração e culpa nas mulheres que têm filhos. “Cada vez mais, nos sentimos piores enquanto mães. Temos sentido mais medo, estamos mais confusas e nos sentimos inferiores. Essa sensação de ineficácia afeta nosso bem-estar físico, nossa saúde mental e a nossa capacidade de sermos boas o suficiente no papel de mãe”, afirma a psicóloga.
Mães autocompassivas se sentem mais seguras
Em seu estudo, aprovado pelo Conselho de Ética em Pesquisa da Universidade da Pensilvânia, Adriana Drulla investigou o desenvolvimento da autocompaixão, focando especificamente no potencial impacto de práticas parentais. A pesquisa foi realizada com 246 pares de mães e filhos adolescentes e revelou que mães autocompassivas têm filhos mais autocompassivos, e se sentem mais competentes no papel de mãe.
A especialista aponta que a autocompaixão envolve a capacidade de fornecer suporte emocional a si mesmo, enfrentando desafios e adversidades com maior perspectiva e com a compreensão de que as dificuldades são comuns a todas as pessoas.
“As mães autocompassivas são mais propensas a se perdoarem quando cometem erros, em vez de vê-los como uma indicação de incompetência ou inferioridade. Isso ajuda essas mulheres a seguirem em frente, a terem menos medo de errar e maior facilidade para tentarem novos caminhos.” analisa a mestre em Psicologia.
Como viver a autocompaixão materna?
Autocompaixão significa olharmos para as dificuldades com realismo e não com lentes de aumento. “É sobre adotar uma postura gentil em relação a si mesma, dando para si o que você precisa em um momento difícil, seja um banho demorado, seja pedir ajuda para alguém porque você precisa relaxar”, orienta Adriana Drulla.
Outra pesquisa feita na Holanda com 900 pares de mães, pais e filhos, mediu comportamentos parentais importantes como a qualidade da escuta, a compaixão pelos filhos, a consciência dos pais sobre as emoções dos filhos e como os pais julgavam a própria atuação.
“Destes aspectos, a aceitação dos pais e as mães sobre si mesmos foi o fator mais fortemente associado a menores níveis de depressão e ansiedade nos filhos. E isso revela que aceitar nossas imperfeições com naturalidade e abrir mão das expectativas irrealistas é importante para a resiliência emocional dos nossos filhos”, defende a especialista.
Aprender a lidar com a culpa materna
O autocuidado torna as mães mais emocionalmente saudáveis e menos reativas. O que permite que elas consigam construir relações profundas e saudáveis com os filhos. Adriana destaca que quando as mães desistem de ser perfeitas, elas reconhecem que seus filhos também não são perfeitos. E, assim, elas se aceitam e conseguem aceitar as imperfeições dos filhos.
O vínculo com os pais é um dos principais fatores que suportam a resiliência emocional da criança, que é a capacidade de enfrentar desafios de forma construtiva. A especialista diz que a resiliência emocional também é facilitada pela forma como a criança interpreta e lida com os problemas. “A criança que se sente aceita por quem ela é, que não acha que precisa mudar para receber amor, desenvolve um autoconceito mais positivo e maior autocompaixão”, afirma.
Benefícios para as mães e para os filhos
A autocompaixão é um dos grandes facilitadores da resiliência emocional em situações de estresse na adolescência. De acordo com Adriana Drulla, adolescentes mais autocompassivos deprimem menos, têm menos ansiedade e melhor desempenho acadêmico.
“As pesquisas mostram que a autocompaixão pode ser aprendida tanto por adultos quanto por crianças. A maior lição da minha pesquisa é que quando as mães se cuidam e são mais gentis consigo, os filhos também se beneficiam. Eles aprendem a serem autocompassivos e têm um vínculo mais forte com essas mães. Logo, exercitando a autocompaixão e cuidando de si, as mães beneficiam também as pessoas que elas mais amam”, finaliza a mestre em Psicologia Positiva.
Por Andressa Alves
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