Das 27 capitais do país, somente dez contam com sistemas de bicicletas para compartilhamento (bike-sharing). São elas: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. O levantamento integra o Estudo Mobilize 2022, publicação lançada no final de 2022 pelo Mobilize Brasil com dados e avaliações da mobilidade urbana em todas as capitais brasileiras.
O trabalho, que foi realizado com a participação de parceiros em cada uma das capitais, procurou registrar a oferta de modos de mobilidade, com dados dos gestores públicos, mas também avaliar a oferta real desses recursos nas ruas das cidades. Na média, entre as dez capitais que contam com bikes públicas, há uma bicicleta para 3.468 habitantes.
Rio de Janeiro possui a maior frota
O maior número dessas bicicletas públicas está no Rio de Janeiro, com 3.600 bikes em 310 estações, ou seja, cerca de uma bicicleta para 1.865 habitantes. O segundo maior sistema funciona em São Paulo, com 2.700 bicicletas em 260 estações, com uma média de uma bicicleta para 4.865 habitantes da capital paulista.
Nas duas capitais, a oferta das bicicletas está mais concentrada nas áreas centrais e em bairros com melhor infraestrutura, inclusive com mais ciclofaixas. Essa má distribuição limita o acesso dos moradores de bairros periféricos ao sistema de bikes públicas.
Regiões com menos bikes
Conforme o estudo, a menor frota do país era a de Belo Horizonte, mas em setembro passado a capital mineira ampliou a presença de suas bicicletas na área central da cidade, completando o total de 200 bikes e 24 estações. Na capital mineira são 12.607 habitantes por bicicleta.
No momento, Goiânia é a capital com o menor número, com 67 bikes em 20 estações. Na capital de Goiás, a relação é de uma bike para mais de 22 mil habitantes, a pior média entre as capitais que dispõem desse serviço. Mas, há também que considerar a extensão da cidade: o Rio de Janeiro tem uma área urbana de 925,31 km2, enquanto Goiânia tem 421,52 km2, menos que a metade da capital fluminense.
Fortaleza tem melhor oferta de bicicletas públicas
Uma das cidades com melhor oferta de bicicletas públicas e de ciclovias é Fortaleza. Lá são 1.259 bikes em 192 estações bem espalhadas pela área urbana de 285 km2, além de mais dez estações com bicicletas infantis. Assim, a relação é de 2.134 habitantes por cada bicicleta. E proporcionalmente, a capital cearense ostenta a melhor oferta de ciclovias entre as 27 cidades analisadas: são quase 410 km, que atendem a 50,8% da população. Na média brasileira, apenas 17% dos habitantes residem nas proximidades de alguma ciclovia, indicou o Estudo Mobilize.
Capitais ausentes na lista
Chama a atenção a ausência de algumas capitais na lista brasileira. Belém, por exemplo, é uma das grandes cidades com maior fluxo de ciclistas nas ruas, com grandes picos que chegam a lembrar cidades holandesas. Mas a cidade ostenta somente 104 km de ciclovias e não tem planos para qualquer sistema de bikes compartilhadas.
Curitiba, que foi uma das primeiras cidades do país a implantar ciclovias, ainda nos anos 1980, não tem bikes públicas, embora em setembro a Prefeitura tenha anunciado a contratação da Tembici para operar o futuro sistema, que deverá ter 50 estações e 500 bicicletas.
Brasil em relação a outros países
De forma geral, a oferta de bikes e de infraestrutura para pedalar ainda é muito limitada no Brasil. Para comparação, a Cidade do México conta com 6,800 bicicletas públicas (1.354 hab/bike), enquanto Nova York já tem 12.000 bikes (766 hab/bike) em seu sistema de compartilhamento. A propósito, a metrópole dos EUA conta com mais de 2.200 km de ciclovias em sua área urbana.
O que é bike sharing?
Os sistemas de bicicletas compartilhadas oferecem a oportunidade de usar uma bicicleta por um período determinado, para pequenas viagens dentro das cidades. A ideia surgiu em 1965, em Amsterdã, Holanda, inicialmente com bicicletas velhas, pintadas de branco, para uso gratuito, por qualquer pessoa. Era uma proposta meio anárquica de alguns entusiastas das bicicletas, mas a ideia não avançou porque muitas bikes foram vandalizadas ou simplesmente roubadas.
Depois de algumas outras tentativas, o primeiro sistema regular e funcional de bicicletas públicas surgiu nos anos 1990 em Copenhague, na Dinamarca, já na perspectiva de reduzir a circulação de automóveis no centro da cidade. A partir daí, e especialmente com a adoção dos aplicativos para liberação das bikes, o modelo espalhou-se por todo o mundo, com experiências inovadoras, como o sistema dockless (sem estações), a inclusão de patinetes e também a adoção de bikes de carga para uso público.
Chegada ao Brasil
No Brasil, o primeiro sistema organizado foi instalado no Rio de Janeiro, em 2010, com apoio do banco Itaú e operação pela empresa pernambucana Serttel. Paralelamente, estudantes de engenharia da USP propuseram, em 2009, a criação do sistema Pedalusp, embrião da operadora Tembici, que hoje atua em várias cidades do Brasil e da América do Sul.
A partir de 2020, os sistemas de bicicletas compartilhadas tornaram-se comuns em capitais e em algumas cidades médias do país, como Santos (SP), Bertioga (SP), Sorocaba (SP), São José dos Campos (SP), Indaiatuba (SP), Brusque (SC), Penha (SC), Cascavel (PR), Gramado (RS), Jaraguá do Sul (SC) e Maricá (RJ).
Hoje há também sistemas com bicicletas elétricas, voltadas principalmente para pessoas que trabalham com entregas porta a porta.
Bikes públicas em Amsterdã
No mundo, conforme o Bike Sharing World Map, existem 1.907 sistemas em operação. Curiosamente, na cidade de Amsterdã, onde tudo começou, existem poucas bicicletas públicas; são apenas 315 bikes, incluindo 100 cargobikes elétricas. Mas a prefeitura da cidade holandesa promete implantar até junho de 2023 um novo sistema, com mais 1.300 bicicletas e 100 cargobikes, que estarão localizadas em terminais de transportes.
Ciclovia para ligar Vitória e Vila Velha
Vitória, a capital do Espírito Santo, tem a menor área urbana entre as capitais do país, com apenas 55,78 km2 e uma população em torno de 366 mil habitantes. Assim, as 235 bikes públicas que operavam na cidade atenderiam bem à população, com uma relação de uma bicicleta para 1.557 pessoas. No entanto, Vitória forma um só conglomerado urbano com as vizinhas Vila Velha, Serra e Cariacica, cidades bem mais populosas. E é nessa região metropolitana que se dá a dinâmica do dia a dia, envolvendo cerca de 2 milhões de pessoas.
O uso de bicicletas na região da capital capixaba esbarra na geografia da cidade: para viajar de Vitória a Vila Velha é necessário cruzar a amplidão de mar da baía de Vitória, mas o trajeto mais curto, pela Terceira Ponte, é vetado aos ciclistas. Agora, com a construção da ciclovia na ponte, é provável que o tráfego de bicicletas cresça significativamente. No final de 2022, a Prefeitura de Vitória e a Serttel (operadora do sistema) anunciaram a promessa de renovar as 34 estações, incluir bikes infantis e dotar todas as bicicletas com luzes de segurança.
Segundo a informação da Prefeitura, em 2023 o Bike Vitória terá 250 bikes e mais quatro estações. Vila Velha também tem – ou melhor, tinha – um sistema de bicicletas, já que no final de 2022 a operadora Tembici anunciou sua decisão de encerrar as atividades na cidade. Agora, a Prefeitura busca uma nova empresa para manter o serviço.
Por Marcos de Sousa – Mobilize Brasil – Revista Bicicleta
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