De acordo com a pesquisa realizada em 2020, pelo Instituto Fiocruz, sobre as principais questões de saúde mental no parto, cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas (período após o parto até que o organismo da mulher volte às condições normais) sofrem de problemas de saúde mental. Dentre eles, a depressão se destaca.
Além disso, a ferramenta de medicina baseada em evidências DynaMed aponta que a depressão pós-parto é um episódio que pode ocorrer em até 12 meses após o parto, com uma incidência de 6,5% a 20% entre as mulheres que deram à luz. Recomenda-se que todas as mulheres sejam rastreadas quanto à questão em até 2 meses após o parto.
Cuidados emocionais durante a gestação e o pós-parto
Segundo Samanta Perez Santos, psicóloga que atende mulheres gestantes e mulheres no puerpério e membro da Doctoralia, plataforma de saúde, os cuidados emocionais no pós-parto precisam ser iniciados com antecedência, desde a gestação. Isso porque a chegada de um novo filho traz mudanças emocionais, físicas, estruturais, sociais e de papéis na vida da mulher e na vida da família.
A profissional completa que a mulher que está gestante e no pós-parto precisa se sentir segura em vários âmbitos, como ter uma rede confiável para a realização do seu parto, saber que vai passar por um processo de parto seguro, sem situações de violências. Além disso, é crucial alguém de confiança ao seu lado no momento do parto e durante o puerpério.
Importância da rede de apoio
Outro aspecto importante para a saúde mental dessa mulher é a segurança material, como ter os recursos financeiros e acesso à saúde. Além disso, a genitora necessita também de um ambiente no qual as pessoas se coloquem como uma rede de apoio funcional, como alguém que faça a paternagem, bem como de um grupo de pessoas que acolham suas demandas. Ainda, é importante que não haja violências domésticas e relações conflitantes familiares.
“Precisamos compreender que a maternidade está cheia de tabus e cobranças intensas acerca do papel que as mulheres são cobradas para desempenhar com excelência e de forma instintiva e solitária”, afirma Samanta. As mulheres podem ter capacidades de exercer os papéis de cuidados, mas não é por isso que precisam fazer isso sozinhas. A rede de apoio precisa também exercer esse papel.
Manter a rotina requer ajuda
Acreditar que vai ser tudo automático e instintivo pode gerar culpabilização principalmente quando há desafios e dificuldades, como entender e atender às demandas do bebê, amamentação etc. “O papel materno e atender às demandas do bebê é um aprendizado constante que vai sendo construído na rotina. Haverá momentos de insegurança e em que poderão emergir sentimentos de incapacidade perante uma rotina extenuante, com várias privações de sono e alimentares”, completa a psicóloga.
Segundo a especialista, entre falhas e tentativas, às vezes é necessário recorrer a algumas ajudas importantes; por exemplo, uma consultoria de amamentação que é ofertada nos bancos de leite, principalmente em situações de dor durante a amamentação.
Por vezes, as mulheres ficam em situações constrangedoras e/ou de sofrimento por não encontrarem possibilidades de pedir e receber auxílio e apoio, assim como por acreditarem que, para ser mulher e mãe, é preciso aguentar ficar no lugar de padecimento. Há a crença, também, de que a genitora “deveria” saber atender às demandas com prontidão e excelência e não ter dificuldades com seu filho.
Fortalecendo o emocional
Outra possibilidade para fortalecer o emocional nessa fase é estimular o autoconhecimento, a realização do pré-natal e a participação de grupos de mulheres que ajudam a fortalecer e criar novos vínculos e estratégias necessárias. É importante ressaltar que todos os fatores citados podem prevenir adoecimentos emocionais, como a depressão pós-parto.
Evitando o adoecimento
Os adoecimentos emocionais durante a gestação e no puerpério não são apenas causados por fatores hormonais e biológicos. A psicóloga Dra. Alessandra Arrais aponta que, quanto maiores esses fatores de proteção citados acima estiverem presentes na vida da mulher, as chances de adoecimentos diminuem.
“É preciso escutar as mulheres, apoiá-las e não silenciá-las. Caso você esteja se sentindo sozinha, sentindo tristeza, ansiedade, ou conheça uma mulher que precisa de ajuda, busque apoio e orientações”, aponta Samanta.
Formas de tratamento
A Dra. Alessandra Arrais menciona que esse período é muito delicado, pois, em alguns casos raros, a mãe pode desenvolver até mesmo a psicose puerperal: ela perde a subordinação à realidade, com delírios e alucinações. Nesse contexto, pode haver necessidade de internação psiquiátrica.
Em paralelo, é ideal que as mamães tenham orientação sobre os medicamentos que podem tomar, visto que há certas restrições. Geralmente, os antidepressivos e os estabilizadores de humor podem ser consumidos; já quanto aos calmantes e aos antipsicóticos, pode haver restrições durante a lactação.
“É importante que elas se cuidem muito neste período e busquem ajuda, pois os riscos de sofrimento e prejuízos para ela e para a criança são enormes. É altamente recomendável cuidar da saúde mental da mãe”, finaliza Dr. Fernando Fernandes, médico psiquiatra do Programa de Transtornos do Humor do Instituto de Psiquiatria da USP e parceiro da Medictalks, plataforma digital de acesso gratuito com conteúdos feitos por médicos.
Por Luiza Fidelis
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