Cinema não é apenas entretenimento. Além de inspirar e incentivar a reflexão, a arte dá luz a personagens distintos que ajudam o telespectador a entender como funciona o discurso e como é possível estabelecer um diálogo assertivo.
De acordo com Fabiana Teixeira, estrategista de comunicação e repórter, “saber por que a comunicação é importante e quais são os efeitos que ela traz pode ser um desafio para quem não trabalha na área. É neste momento que a arte chama, pois as obras cinematográficas não só refletem, mas também transformam a nossa realidade”. Pensando nisso, a profissional indica 4 filmes com personagens que ensinam sobre a importância da comunicação. Confira!
1. Dois Papas (2019)
Com direção de Fernando Meirelles, o filme “Dois Papas” traz uma visão mais próxima e humana dos bispos. Ao observarmos o estilo de Bento XVI (Anthony Hopkins) e de Francisco (Jonathan Price), podemos identificar características peculiares no discurso de cada um.
Durante as conversas e embates, Bento XVI argumenta, na maioria das vezes, de forma dura, contundente, expressando firmemente suas convicções. Em contrapartida, Francisco é o exemplo de humanização que se espera de um bispo. Muito disso deve-se à sua simplicidade. Papa Francisco fala sobre gostar de futebol e dançar tango. É bem-humorado, faz piadas, é expressivo e sente a igreja contemporânea desconectada com a realidade atual. No entanto, o maior ensinamento está na autenticidade.
“Ninguém é igual a ninguém. Por isso devemos partir do princípio de que o mais importante é ser autêntico em seu discurso, respeitando seu estilo e desenvolvendo, com muito treino, uma comunicação assertiva”, aponta Fabiana Teixeira.
Outro ponto a ser destacado é a diplomacia, ou seja, saber escutar pontos diferentes dos seus e manter sua inteligência emocional, ponderando os argumentos e mantendo sempre o diálogo. O segredo para uma boa comunicação é ter uma escuta ativa e empática.
2. A Chegada (2016)
Se a comunicação entre os humanos já está difícil, imagina só ser encarregada de se comunicar com alienígenas. Essa é a função que o governo do longa “A Chegada”, dirigido por Denis Villeneuve, exige da Dra. Louise Banks (Amy Adams), linguista especialista no assunto.
Ao perceber que a missão é praticamente impossível, Banks traça outra estratégia e mostra como um momento de crise exige adaptabilidade para entender o contexto no qual estamos imersos e criatividade para propor soluções, além do famoso jogo de cintura para negociar, engajar, convencer e persuadir, no sentido positivo, outras pessoas em prol da solução do problema.
“A Chegada” é um filme sobre as nossas limitações diante do desconhecido. Para a estrategista de comunicação, a ficção explica como às vezes precisamos criar uma linguagem universal para que a mensagem seja compreendida por todos.
3. O Discurso do Rei (2010)
Dirigida por Tom Hooper, a produção também é baseada em fatos. O clássico “O Discurso do Rei” narra a trajetória de ascensão, persistência e superação do Rei George VI (Colin Firth), pai da Rainha Elizabeth II. Vencedora de 4 Oscars e aclamada pela crítica, a obra traz como principais fios condutores as dificuldades que perseguiam e limitavam as ações do Rei George VI desde a sua infância: a gagueira e a dificuldade de se comunicar.
Dá para imaginar um rei sem o poder da oratória e de conexão com os seus súditos? Diante desse desafio e diversas tentativas médicas para solucionar o seu distúrbio, são métodos nada ortodoxos que transformam o rei gago em um dos maiores oradores do seu reinado. Segundo Fabiana Teixeira, o personagem nos mostra um trabalho de autoconfiança para se tornar um porta-voz convincente e discursar para a multidão, como se estivesse falando para uma pessoa que acredita em você. O filme nos ensina que falar bem não é dom, é treino.
4. Obrigado por Fumar (2006)
“Se argumentar corretamente, nunca estará errado. Se alguém consegue vender cigarros, pode vender qualquer coisa” é a frase de efeito de Nick Naylor (Aaron Eckhart) em “Obrigado Por Fumar”, dirigido por Jason Reitman.
Porta-voz de uma empresa gigante de cigarros, a função do personagem principal é a de impulsionar o uso deles, além de defender os direitos dos fumantes. Por conhecer muito bem o seu produto e entender o lado negativo dele, Nick usa e abusa do poder da oratória com técnicas de argumentação e persuasão, o que o ajuda a sair ganhando em todas as discussões.
O filme foca a maneira como as informações são manipuladas e como o uso correto das palavras pode tornar um hábito destrutivo em um dos produtos mais vendidos do mundo. Fabiana Teixeira explica que o enredo do personagem ilustra a importância da argumentação como fonte de sucesso para se chegar ao ápice da carreira desejada.
Por Rafaela Costa
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